ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | O Palácio dos Anjos: Mercado financeiro e meretrício de luxo |
|
Autor | Geraldo Blay Roizman |
|
Resumo Expandido | Em O Palácio dos Anjos, de 1970, dirigido por Walter Hugo Khouri com produção realizada nos estúdios da Vera Cruz em parceria com a Metro Goldwyn Mayer e Embrafilme, vemos já na introdução dos letreiros imagens de pinturas de mulheres com olhos e bocas provocantes e sensuais mescladas de flores de uma insinuada e alegre eroticidade multicor, aquilo que prenuncia algo do enredo do próprio filme. A personagem principal, Bárbara, aparece logo no início mesclado ao rosto de uma mulher com a boca aberta da última pintura da abertura. Ela se encontra fumando e caminhando em meio aos carros numa balsa cujo som do motor ecoa. O barulho forte da aparição do transatlântico de luxo Eugênio C a faz se virar repentinamente. A mesma cena chave, que se tornará obsessiva, e retornará em vários momentos e no final do filme. Viajar no transatlântico é o objeto de seu desejo. Seus olhos azuis mirando para o navio ao som do barulho estridente. O gigantesco transatlântico cruza a imagem onde ela se encontra como se a atingisse ou rasgasse com a ponta aguda da proa diretamente seu corpo e sua subjetividade melancólica. Essa obsessão se caracterizará durante o filme no sentido de não somente conquistar uma independência profissional e financeira, como de multiplicar o capital. No inicio do filme, Ricardo, seu chefe e ao mesmo tempo aquele que a quer levar descaradamente para a cama, na reunião da empresa de crédito e financiamento discursa sobre estar lutando neste momento para fazer um cadastro único de clientes a fim de reduzir o custo das fontes de informação, que o problema central é a pesquisa, a coleta de dados e o arquivo devido terem muita concorrência. Seu discurso é típico da objetivação empresarial e do lucro máximo. Aos olhos e ouvidos atentos de funcionarios e de Bárbara, ele diz: “ Não é brinquedo o dinheiro parado nesta cidade” “melhorar as fichas para controlar os clientes, conhecer desde suas marcas de cigarro até quais são seus medicamentos, se tem amantes, o que gastam em boites, em roupas, mulheres, e que é necessário um departamento que corrija todas as informações: as secretárias, os empregados de banco, as criadas, os garçons, uma boa gorjeta e de repente se abrem todas as portas. "O dinheiro do país está aqui, ele diz." Bárbara captará essa informação e a aplicará, inclusive utilizando do arquivo da empresa, para que de maneira estritamente semelhante, se convença da rentabilidade do meretrício de luxo a partir da sugestão de uma empresaria de casa noturna luxuosa que lhe oferecerá o emprego. O paralelo entre a empresa de mercado de crédito e financiamento e o Palácio, o meretrício de luxo em suas estratégias acaba por compará-las moralmente em todos os aspectos da objetividade do lucro máximo da empresa capitalista. Em todas as formas de trabalho, o corpo e a subjetividade estarão envolvidos, no caso de Bárbara e suas amigas, no sentido de, apesar do entrosamento num primeiro momento na composição libidinal da objetividade do negócio e sua lucratividade, apesar das expectativas diversas entre elas como o dispêndio de investimento do lucro obtido na decoração do Palácio por Bárbara, ocorrerá no entanto o sacrifício dessa afetividade que as unia como amigas bem como de sua própria subjetividade que, melancolicamente, não consegue mais deixar de ser empresarial e no caso de uma delas, acarretando mesmo a perda de sua própria sanidade. Os mansos em 1973, de Braz Chediak, Pedro Carlos Rovai e Aurélio Teixeira já trataria do tema de forma mais literal, em que a esposa aceita a proposta do pretendente de passar-lhe a mão em troca de dinheiro com o estímulo do marido investidor da bolsa. A pornochanchada brasileira foi o principal investimento financeiro da indústria cinematográfica da época constatado no ápice de público da Embrafilme em filmes oriundos da exploração do corpo da mulher e do machismo e essa relação entre sexo e investimento financeiro se espelhou diretamente na própria temática de alguns filmes da época. |
|
Bibliografia | AGAMBEN, G.O uso dos corpos, Homo Sacer IV 2. São Paulo: Boitempo, 2017. |