ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | O roteiro nos primórdios do cinema brasileiro (1913-1931) |
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Autor | Natasha Romanzoti Graziano |
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Resumo Expandido | A história do roteiro é quase tão antiga quanto a história do cinema, embora menos estudada, especialmente no que diz respeito aos primórdios do cinema feito em solo brasileiro. Este trabalho pretende discutir e elucidar o papel do roteiro do primeiro longa-metragem de ficção brasileira conhecido em 1913 até o advento do cinema sonoro e a publicação de uma importante obra do roteirista e diretor Joaquim Canuto Mendes de Almeida em 1931, “Cinema contra cinema: bases geraes para um esboço de organisação do cinema educativo no Brasil”, através de levantamento bibliográfico e análise de fontes primárias e secundárias, como revistas e documentos relativos a esse momento da cinematografia nacional. Embora haja pouca documentação disponível, a análise dos dados acessíveis sugere que a escrita cinematográfica e a profissão de “roteirista” eram importantes e requisitadas desde os primeiros anos do desenvolvimento do cinema no país. Por exemplo, em 1913, Francisco Santos lançou um concurso que “premiaria o ‘escritor que melhor ideia’ apresentasse para a ‘confecção de fitas’ (TRUSZ IN RAMOS; SCHVARZMAN, 2018, p. 81). Conforme indicam o concurso e o fato de que o roteiro resultante, O Crime dos Banhados, foi creditado à Carlos Cavaco (SABADIN, 1997, p. 210), é provável que a confecção de sinopses e/ou guias para a produção audiovisual já fosse comum pelo menos a partir da década de 1910 no Brasil. A técnica de escrever para o cinema, inclusive, é discutida desde pelo menos 1918, data de uma espécie de “manual” escrito por Antônio Campos, intitulado “Como se escreve para o cinematógrafo”, dividido em dois artigos publicados na revista A Fita. No texto, Campos ensina como adaptar obras literárias para o cinematógrafo e oferece “algumas indicações ou regras aos escritores que queiram se dedicar a este gênero que difere em absoluto do teatro”, definindo termos como “quadro cinematográfico” e apontando que sua numeração seria “indispensável”, fazendo alusão à função que esse documento teria como possível guia para as demais etapas da produção cinematográfica, em especial a filmagem. Outras publicações antigas exemplificam a importância dada ao “roteiro” no período, comumente referido como “cenário” ou “enquadração”. Em 1922, A Scena Muda traz um artigo no qual o roteiro é tratado como uma forma de escrita específica que exige concentração e concepção distintas de outras formas de escrita (A SCENA MUDA, 1922, n. 50, p. 12). Já em 1924, define-se o que seria um “cenarista” e discute-se o papel da autoria do cinema, com a opinião de que “em geral, quando o filme é bom, o cenarista não recebe tantos elogios como os produtores e os diretores, mas também os merece” (A SCENA MUDA, 1924, n. 164, p. 14). Na Cinearte, por outro lado, é frequente a opinião de que o “cenário” seria a chave para o sucesso de um filme brasileiro: “(...) antes de tudo, os nossos filmes devem cuidar do cenário, este espantalho de que a maior parte dos nossos cinematografistas nunca ouviu falar e acha-o um fator bem secundário” (CINEARTE, 1926, n. 13, p. 5). Até onde se saiba, os mais antigos trechos de roteiro conhecidos do cinema brasileiro são do filme Gigi (1925), de Joaquim Canuto Mendes de Almeida, baseado em conto do escritor Viriato Corrêa. Escritos à mão, estão depositados no fundo pessoal de Joaquim Canuto na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. A partir deste documento, de outros trechos de roteiros e de informações como as mencionadas acima, é possível ter um panorama sobre a função do roteiro nos primórdios do cinema de ficção brasileiro, analisar a evolução de termos e formatos e argumentar que esse tipo de documento se revelou importante desde o início do desenvolvimento da atividade cinematográfica no país, o que é corroborado pelo despontamento da figura do escritor “especialista” em cinema e pela necessidade de uma literatura e teorizações sobre essa arte específica e parte essencial do elo da cadeia de produção cinematográfica. |
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Bibliografia | A SCENA MUDA. Rio de Janeiro: Companhia Editora Americana, n. 164, 8° do 4° ano, 15 mai. 1924. 34 p. |