ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | O cinema paulista independente dos anos 1950 na imprensa |
|
Autor | Gabriel Henrique de Paula Carneiro |
|
Resumo Expandido | Em 1977, Maria Rita Galvão (1980, 14) escreveu: “O que se chama na época de ‘cinema independente’ é bastante complicado de entender e explicar. Fundamentalmente é o cinema feito pelos pequenos produtores, em oposição ao cinema das grandes empresas. Mas nem todo pequeno produtor é necessariamente ‘independente’. Para ser qualificado de independente um filme deve ter um conjunto de características que frequentemente nada tem a ver com seu esquema de produção – tais como temática brasileira, visão crítica da sociedade, aproximação da realidade cotidiana do homem brasileiro. Misturam-se aos problemas de produção questões de arte e cultura, de técnica e linguagem, de criação autoral, e a ‘brasilidade’”. O texto de Galvão foi o primeiro esforço amplo de compreensão sobre o cinema independente dos anos 1950 nos tempos dos estúdios, e acabou por consolidar historiograficamente o que foi o “Cinema Independente” paulista. O conjunto apresentado pela autora se pretende totalizante. Apesar disso, o recorte da autora é bastante específico. Galvão se ampara em autores bastante envolvidos nos Congressos de cinema: Alex Viany, Rodolfo Nanni, Nelson Pereira dos Santos etc. Para além das referências utilizadas por Galvão, interessa-me entender como a imprensa leu e reverberou o cinema independente na época, quando críticos e jornalistas estavam ligados à produção e às políticas cinematográficas. Destaco três pontos: 1) Fundamentos e a dependência como vinculação ao capital estrangeiro Nelson Pereira dos Santos (1951), ao falar da falta de brasilidade em Caiçara (1950) da Vera Cruz, condena o contrato de distribuição com uma major. Para ele, ao se associar com a Universal-International, uma das majors hollywoodianas, a Vera Cruz perde sua independência enquanto produtora, tendo de se submeter aos interesses da indústria norte-americana. E, por conta disso, o filme produzido, Caiçara, ainda que tenha motivos brasileiros, não exala brasilidade – afinal, a liberdade foi tolhida e comprometida por interesses que jogam contra o sucesso do cinema brasileiro. Em 1951/1952, quem essencialmente discute a produção independente é a revista Fundamentos, da editora Brasiliense, ligada ao Partido Comunista Brasileiro. Os articulistas abordam o cinema pelo viés nacionalista, por isso o constante ataque às associações com distribuidoras estrangeiras. São esses mesmos nomes – Nelson Pereira dos Santos, Alex Viany etc. – que introduziram a questão da independência do e no cinema brasileiro nos Congressos de cinema de 1952, e que servem de ponto de partida para a análise de Maria Rita Galvão, ainda que lá a vinculação com o oligopólio seja diminuta. 2) Independente como aquele feito ‘por conta própria’ A partir de 1953, a alusão à produção independente tornou-se mais corriqueira na imprensa. Deixou-se de lado, em grande parte, a conotação salvadora e a perspectiva de independência enquanto projeto, e ganhou contornos mais simplistas, para designar filmes realizados fora dos grandes estúdios, em que a relação com a distribuidora sequer era citada. Quem bastante se valeu da prerrogativa da produção independente como forma de resistência para a manutenção do fazer cinema foi Walter Hugo Khouri à época de seu primeiro filme: “quando inquirido [...] fez logo questão de ressaltar que ‘O GIGANTE DE PEDRA’ é obra concretizada em meio a todos os entraves e todas as dificuldades com que entre nós costumam se defrontar as películas de produção independente” (BIÁFORA, 1954). Independente, portanto, porque não tem as mesmas facilidades de produção dos estúdios. 3) Cinema independente, termo corriqueiro Talvez o dado mais curioso na investigação do uso do termo ‘cinema independente’ ou ‘produção independente’ na imprensa paulista e fluminense dos anos 1950 é justamente a dimensão corriqueira que alcançou. Se, nos primeiros anos, era frequente alguma qualificação, ainda que mínima, a expressão passou a ser usada, ela sim, como alcunha de filmes e profissionais. |
|
Bibliografia | BIÁFORA, Rubem. A propósito de ‘O gigante de pedra’. Folha da Manhã, São Paulo, 16 fev. 1954. Boletim do festival, p. 3. |