ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Prometeu 21: CARA-O-QUÊ? webTVs na gravidade sob controle remoto |
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Autor | MILENA SZAFIR |
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Resumo Expandido | Esta performance trata-se de um filme-ensaio a ser montado ao vivo, com possível participação do público, a partir de um triplo desdobramento tecno-conceitual: (1)as estéticas televisivas -entre programas de auditório e design em movimento (FECHINE,2008;MACHADO,2000)-, (2)cinema como arqueologia das mídias (MANOVICH,2001;ELSAESSER,2018) e (3)audiovisual via inteligência artificial hoje (SZAFIR,2020;HUI,2020). Se o “vídeo é uma forma que pensa” (DUBOIS,2004), propomos uma metalinguagem poética -e suas materialidades em órbita-, compreendendo que o “ao vivo” dá margem à emergência daquilo nem sempre programado: formas de risco que envolvem o improviso estético diante da falha e dos ruídos destas (tele-)audiovisualidades que visam nos arremessar reflexivamente em atravessamentos do caos em que vivemos. Neste século 21 -com seus novos Prometeus, onde as contemporâneas mercadorias tecnológicas funcionam de acordo com suas próprias necessidades econômicas e de controle-, como construirmos uma retórica audiovisual em live streaming? Esta indagação nos guia a um projetar crítico dos gestos de montagem às “novas” tecnologias audiovisuais. Retornando a uma basilar teoria cinematográfica, identificamos que tanto para Kuleshov quanto para Eisenstein a representação A e a representação B devem ser buscadas de tal modo que “sua justaposição suscite na percepção e nos sentimentos do espectador a mais completa imagem do próprio tema”. Da montagem das atrações (o processo do conhecimento através do jogo vivo das paixões) à justaposição ideogramática, operacionaliza-se o conceito de choque/ conflito - um esquema/ síntese como forma algorítmica conceitual/ intelectual. Ainda, a obra audiovisual pode ser vislumbrada como uma partitura orquestral - composição dos diversos elementos que aparecem no quadro desde camadas diferentes: várias pautas, cada uma contendo a parte (desenvolvida horizontalmente) do todo (em progressão vertical), entrelaçados ao movimento complexo e harmônico. A relação da linguagem musical à gramática do cinema é estabelecida também por Vertov, quando de sua teoria do Intervalo para experimentações metalinguísticas e não-narrativas. Ao trabalharmos a montagem audiovisual como uma performance ao vivo no online, retomamos também tanto Godard - para quem a imagem não pertence a quem a produz e sim a quem a utiliza - quanto a segunda geração da videoarte brasileira (para quem fazer televisão era uma meta desde reinveções da estética mainstream). Ou seja, dos gestos de apropriação dos bancos de dados da Internet à subversão da estética dominante nas Lives durante a pandemia COVID19 (que tornou nossos encontros remotos, provocando novas experiências de presença digital), o coletivo Intervalos & Ritmos (#ir!) elabora experimentações sonoro-videográficas a uma transmissão e contágio nas (im)possíveis formas de webTV, na busca por transformar os espectadores em participa’dores neste quasi-cinema - como proposto por Neville D’almeida e Hélio Oiticica (SZAFIR,2015). Apostamos que, se as tecnologias pertencem aos continentes mais poderosos, os processos artísticos pertencem a como nos apropriamos destas maquinarias que cotidianamente apropriam-se de nossos dados: a criatura de Frankenstein observava a vida dos seres humanos tomando conhecimento das emoções e também da linguagem verbal dos homens, classificando e nomeando suas expressões e seus sentimentos. Frente ao Prometeu Moderno visamos debater audiovisualmente a inteligência artificial de nossa era neobiopolítica: “quem sabe faz ao vivo” (ou, na máxima de Chacrinha, “eu não vim pra explicar, vim pra confundir”). Um manifesto à supressão das fronteiras entre cinema, design, mídias emergentes e as artes em seus processos de criação: nosso filme-ensaio em tempo real operará através de um remix audiovisual no atual cenário de confluência da vida para o digital, onde a semântica, as frequências vocais e os reconhecimentos faciais (cara-o-quê?) passam a ser calculados ad infinitum. |
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Bibliografia | BRANDÃO, A.; LIRA, R. (orgs.).A Sobrevivência das Imagens [SOCINE 2013]. Campinas:Papirus, 2015. |