ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Dark: vozes de narradores, “som sujo”, a escuta do ambiente fantástico |
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Autor | Fernando Morais da Costa |
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Resumo Expandido | A partir do objetivo central ser analisar a trilha sonora da série Dark, propomos os objetivos secundários que seguem descritos abaixo. No que diz respeito à análise das vozes, nos é fundamental considerar tanto materialmente as propriedades sonoras das vozes de narradores quanto suas implicações políticas e sociais. Há questões passiveis de serem analisadas no que concerne língua a nacionalismo, além de questões de gênero. As duas primeiras temporadas trazem um narrador impessoal masculino. Na terceira temporada, a voz over é feminina. A presença de vozes de narradoras, dentro do perímetro audiovisual, tem uma história que remete a Lucy Fischer e seu ensaio sobre o ponto de escuta feminino em Entusiasmo, de Dziga Vertov (FISCHER, 1985) e vem reverberando em pesquisas contemporâneas sobre voz e gênero no âmbito das pesquisas brasileiras na área. Além disso, pretendemos voltar, para tal análise das vozes, ao conceito/metáfora de Barthes sobre o grão da voz Quanto aos sons ambientes, nos será importante pensar no conceito de “dirty sounds”, sons sujos, em tradução nossa, de Lisa Coulthard. O conceito se baseia nas possíveis sensações que sons ambientes concentrados em baixas frequências podem proporcionar aos espectadores, causando mesmo tensão e desconforto físico, háptico, a partir de como os corpos recebem o excesso de sons graves. (COULTHARD, 2013) Também é um objetivo desta palestra entender o papel do silenciamento dos sons diegéticos, como marcadores que são de momentos narrativamente relevantes para os espectadores. Em Dark, ocorre algo que é ao mesmo tempo conhecido na história do cinema e recorrente no audiovisual contemporâneo: em cada episódio, há um momento em que todos os sons diegéticos são silenciados, e a trilha sonora é preenchida por uma canção, normalmente tocada em sua extensão total. Passamos, como espectadores, pela experiência de não ouvir, por três, quatro minutos, os sons que vêm da cena, enquanto escutamos uma música que se basta, naquelas situações, como a sonorização da série. Para além da análise de uma sonoridade audiovisual em sua forma contemporânea, também faz parte de nossos objetivos correlatos, comparar a trilha sonora da série com cânones das representações sonoras do fantástico no cinema. Para tanto, serão relevantes as pesquisas de Rodrigo Carreiro (CARREIRO, 2011) e de William Whittington (WHITTINGTON, 2007). Por fim, nos interessa ainda, dentro de uma lógica comparativa entre literatura e audiovisual, pensar em correlações possíveis entre a série e a literatura fantástica moderna latino-americana do século XX, especialmente nas obras de Jorge Luis Borges, Julio Cortázar e Adolfo Bioy Casares, que trabalharam de forma recorrente sobre variações possíveis espaço-temporais, artificio central para a série. |
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Bibliografia | CARREIRO, Rodrigo. Sobre o som no cinema de horror padrões recorrentes de estilo. Ciberlegenda. Niterói: PPGCOM – Universidade Federal Fluminense, n. 24, v.1. 2011. |