ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Potencialidades de um Suburbanismo Fantástico Brasileiro |
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Autor | PEDRO ARTUR BAPTISTA LAURIA |
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Resumo Expandido | O suburbanismo fantástico é um subgênero cinematográfico pela primeira vez conceituado por Angus McFadzean (2017; 2019). O subgênero é marcado por narrativas geralmente ambientadas nos subúrbios de classe média estadunidenses e que contemplam filmes com protagonistas jovens, que passam pelos ritos de amadurecimento enquanto precisam resolver uma disrupção de seu cotidiano causado por um elemento fantástico tais quais E.T. – O Extraterrestre (E.T. – The Extraterrestrial, Steven Spielberg, 1982), Os Goonies (The Goonies, Richard Donner, 1985) e De Volta para o Futuro (Back to the Future, Robert Zemeckis, 1985). O subgênero teve uma retomada na última década, com uma perspectiva mais nostálgica e reflexiva (McFadzean, 2019), marcada por obras como Stranger Things (Irmãos Duffer, Netflix, 2016-) e It – Capítulo 1 (It – Chapter One, Andy Muschietti, 2017). Fundado como um subgênero ambientado nos “subúrbios baunilha” (Ávila, 2004) estadunidenses, ele tem sua origem intrinsicamente ligada a conceitos como androcentrismo, branquitude e heteronormatividade. Por isso, sua própria estrutura narrativa tem uma natureza conservadora, envolvendo garotos brancos que precisam retomar o status quo do subúrbio, colocados em crise por um agente externo que não encaixa ou não corrobora com aqueles valores. No Brasil, as mais evidentes obras do subgênero são O Escaravelho do Diabo (Carlo Milani, 2016) e Turma da Mônica – Laços (Daniel Resende, 2019) – adaptações da literatura e dos quadrinhos infanto-juvenis, que se propõe à se adereçar para o sentimento nostálgico dos adultos que os consumiam na infância. Talvez por tal motivo, tais obras acabam por reverberar certos elementos sintáticos e semânticos típicos do cinema hegemônico estadunidense da década de 1980, e não se propõem a trazer uma perspectiva heterodoxa e nacional para o subgênero. Assim, eles retêm inclusive as perspectivas hegemônicas das primeiras produções do subgênero, reafirmando os valores de família nuclear, romance heteronormativo e da classe média. No entanto, nos últimos anos cada vez mais produções contestam esses valores tão atrelados ao subgênero. São o caso de obras como A Gente se Vê Ontem (See You Yesterday, Stefon Bristol, 2019), Vampiros vs. The Bronx (Vampires vs. The Bronx, Osmany Rodrigues, 2020) e A Convenção das Bruxas (The Witches Robert Zemeckis, 2020) – que trazem suas narrativas para periferias urbanas e contam suas histórias a partir do protagonismo de jovens negros/as e latinos/as. O presente trabalho busca ressaltar um certo pioneirismo brasileiro em trazer uma perspectiva contra-hegemônica ao suburbanismo fantástico, a partir de Mate-me Por Favor (Anita Rocha da Silveira, 2015), obra associada em seu lançamento à um coming of age drama com elementos de suspense. No filme, Bia, uma jovem moradora da Barra da Tijuca (bairro nobre do Rio de Janeiro), passa por seu processo de amadurecimento, em meio a notícias de brutais assassinatos ocorrendo nas imediações. A obra traz uma visão bastante crítica dos principais temas celebrados pelo subgênero, como família, heteronormatividade e androcentrismo. Nos utilizaremos da conceituação semântico/sintática de gênero de Altman (1984) para discutir como Mate-me Por Favor subverte elementos e expectativas do próprio subgênero, a partir de um olhar cáustico para a classe média brasileira. Compararemos essa perspectiva com aqueles empregados nas duas produções nacionais posteriores do subgênero, e que se contrapõe de forma antagônica ao do filme de estreia de Anita Rocha da Silveira. Por fim, procuraremos debater como os três filmes trazem possibilidades para um Suburbanismo Fantástico Brasileiro a partir da adaptação de nossas especificidades regionais e de nosso senso de brasilidade. Com esse intuito compararemos essas obras sobre a luz de análises de subgêneros “irmãos” melhor aprofundados como o realismo mágico brasileiro (Young, 1995) e o cinema jovem brasileiro (De Paula, 2016). |
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Bibliografia | ALTMAN, Rick. A Semantic/Syntactic Approach to Film Genre. Cinema Journal. VOl. 23, n.3, University of Texas, US. pp.6-18, 1984 |