ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Aborto e direitos reprodutivos em Grey’s Anatomy |
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Autor | Virgínia Jangrossi |
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Resumo Expandido | A maternidade tem sido atrelada à ideia de auto realização independentemente de ser ou não o desejo das mulheres. Devido à fisiologia feminina, o cuidado que os bebês e crianças necessitam, bem como a pressão exercida pela sociedade patriarcal, a maternidade passou a ser vista como inevitável (Chodorow, 1978). Como consequência, houve uma repercussão dessa temática em diversos melodramas hollywoodianos maternos, especialmente aqueles produzidos entre 1930 e 1950. Esses filmes ajudaram a fortalecer tanto o mito do amor materno quando a representação vilanesca de mulheres que por ventura não demonstrassem aptidão materna. Além das figuras maternas santificadas e/ou tiranas, outras representações se dissiparam por meio de outras mídias. A figura da mulher trabalhadora ganhou força em séries televisivas nos anos 1970. Nos anos 1980, surgiu a representação da supermulher, que deveria encontrar formas para balancear as tarefas domésticas às profissionais (Genz, 2009). Entre 1990 e o começo do século XXI, foi apresentado o dilema da singleton sobre como conciliar o desejo de encontrar “o amor verdadeiro” sendo uma jovem mulher profissionalmente independente (Genz, 2009). Essas representações que surgiram após a segunda onda do feminismo geralmente exibiam a dificuldade das mulheres em encontrar um equilíbrio entre a vida pessoal e a esfera pública. Como as mulheres poderiam ser esposas ternas e mães carinhosas enquanto almejavam sucesso profissional? Será que as mulheres ainda possuíam/possuem essas aspirações? Caso não queiram se tornar mães, quem está falando sobre essas mulheres? (POLIKOFFS Apud Snitow, 1992). Embora alguns pesquisadores tenham notado a falta de debates sobre este assunto entre os anos 1980 e 1990, podemos fazer as mesmas afirmações para o momento atual? Mesmo que os melodramas canônicos sejam conhecidos por representações maniqueístas, como os melodramas contemporâneos têm representado mulheres que não querem se tornar mães? Será que ainda é possível mostrar a complexidade dessas personagens, ou essas mulheres estão fadadas a serem representadas como frias e ambiciosas? Quando optam pelo aborto, quais consequências elas têm de enfrentar? Será que a narrativa permite que elas sejam eximidas de algum tipo de punição? Para responder essas perguntas, será feita uma análise feminista de Grey’s Anatomy por meio de um estudo comparativo entre duas personagens, Cristina Yang e Amelia Shepherd. Para que seja possível compreender se a representação feminina está mais alinhada à sociedade patriarcal ou à perspectiva feminista, será examinado o modo como a representação do aborto foi alterada ao longo das duas primeiras décadas do século XXI. Para evitar ambiguidades, entende-se como sociedade patriarcal o sistema em que as estruturas políticas, sociais, legais, religiosas e econômicas favorecem a dominância masculina sobre as mulheres (Cameron, 2018). Por outro lado, feminismo não é um movimento que visa favorecer mulheres sobre os homens. O objetivo do feminismo é colocar um fim à opressão sexista que mulheres têm de enfrentar nesta sociedade patriarcal (hooks, 2015). Através da análise fílmica e da teoria da leitura polissêmica (Fiske,1986), esta comunicação investigará a primeira e segunda tentativa de Cristina obter um aborto e as consequências enfrentadas após realizá-lo. Em seguida, será traçado um paralelo entre ela e Amelia quando o assunto retornar ao centro da discussão. Além disso, serão traçadas comparações entre o comportamento masculino diante da possibilidade do aborto. Por meio da leitura polissêmica, será levado em conta o modo como as ambiguidades narrativas entrelaçam leituras feministas e patriarcais neste produto de cultura de massa, bem como sua repercussão. |
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Bibliografia | CAMERON, Deborah. Feminism: ideas in profile. London: Profile Books, 2018. |