ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Recepção do New American Cinema e do cinema underground no Brasil |
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Autor | Theo Costa Duarte |
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Resumo Expandido | Pretende-se discutir a recepção do New American Cinema e do chamado cinema underground no Brasil nos anos 1960 e 1970. Para essa discussão partimos das matérias, ensaios e críticas publicadas em jornais e revistas brasileiras, relacionadas ou não às parcas exibições dessas tendências cinematográficas realizadas no período principalmente na cidade do Rio de Janeiro e, em menor medida, em São Paulo. Essas exibições tiveram uma recepção bastante tímida no meio cinematográfico brasileiro se comparado seja com os efetivos contatos dos realizadores brasileiros no exterior com esses cinemas seja com o impacto das “New American Cinema Expositions” em outros países. Essas grandes retrospectivas – ocorridas na Argentina em 1965 (Windhausen, 2015) e em dezenas de cidades europeias em 1967 e 1968 (Sitney, 1967; Noguez, 1985: 218-219), catalizaram, como desejado (Schober, 2013), a formação de grupos e cooperativas de cinema experimental nesses países quase imediatamente. Como considera Schober (2013: 86) a respeito da formação dessas cooperativas na Europa e América Latina, as retrospectivas do underground ofereceram uma estrutura discursiva alternativa – além de novos estilos e exemplos de modos de financiamento, produção e distribuição independentes – às cinematografias de cada um desses países, possibilitando a esses atores criar novas respostas aos seus meios específicos. No Brasil, as pequenas mostras não motivaram assim qualquer tipo de iniciativa nos moldes do underground estadunidense. Observa-se que para além das enormes dificuldades relativas à censura para a realização de uma grande retrospectiva no Brasil, predominava também uma desconfiança no meio cinematográfico brasileiro aos seus reais propósitos. Afinal, as “New American Cinema Expositions” eram em parte financiadas por órgãos de estado – como a USIA, o USIS e a Comissão Fullbright – e se inseriam em política externa de soft power de promoção das artes do país no exterior. Essa atitude expansionista do underground, nesse período de crescente politização e de acirramento da guerra com o Vietnã, foi vista de forma bastante problemática por diversos grupos à esquerda na Europa (Schober, 2013: 86) e Argentina, e ensejou o próprio fim das retrospectivas em 1968 (Mekas, 1968). Em relação a recepção dessas tendências na imprensa brasileira nesse período podemos distinguir quatro momentos e modos predominantes, a serem discutidos com mais detalhes. O primeiro momento se dá a partir de 1961 por cineastas do Cinema Novo que tomaram o New American Cinema como um aliado contra a hegemonia de Hollywood e seu star system (Saraceni, 1961: 4; Rocha, 1961: 3). Um segundo momento se dá na desencontrada recepção de segunda mão por parte de críticos como Alex Viany (1961: 56), Antonio Moniz Vianna (1964: 4), Octávio de Faria (1963: 1) e Maurício Gomes Leite (1961: 58), ocorrida na primeira metade da década de 1960. O terceiro momento é aquele relativo à recepção crítica das mostras de cinema underground no país. O quarto momento se daria na virada das décadas com a reinterpretação desaprovadora do underground por parte do Cinema Novo nas disputas culturais com o Cinema Marginal. Se os cineastas “marginais” como Sganzerla e Bressane trataram o cinema underground como uma tendência pouco influente e desconhecida; o Cinema Novo, principalmente Glauber mas também Joaquim Pedro de Andrade e Gustavo Dahl, associou diretamente o underground ao Cinema Marginal, como se esta fosse uma imitação “colonizada” daquela, igualmente “apolíticas” quando não reacionárias, e deliberadamente marginais (apesar da frequente recusa da caracterização por parte dos próprios realizadores brasileiros, que se consideravam marginalizados do mercado). |
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Bibliografia | Mekas, J. Letter from Jonas Mekas to the filmmakers, Nova York, 15 jul. 1968. Anthology Film Archives. |