ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Identidade atomizada em Cabra e Peões: o passado ilumina o presente |
|
Autor | Marco Escrivão |
|
Resumo Expandido | Os filmes de Eduardo Coutinho foi conduzido pelo olhar para os excluídos da história. Sua atenção à memória das pessoas nos fornece material para conhecer o passado podendo assim compreender o próprio presente pois "o presente ilumina o passado, e o passado iluminado torna-se uma força no presente” (LOWY, 2005). Em Peões, Coutinho escolhe iniciar o filme com uma introdução em Várzea Alegre - CE, resgatando memórias sobre as greves ocorridas no ABC paulista em 1979, 1980 e 1981. Após essa introdução, o filme vai para São Bernardo do Campo - SP. Um letreiro destaca o grande número de trabalhadores que foram do Nordeste para o Sudeste. Peões articula formalmente o caminho percorrido pela grande parte dos trabalhadores que alicerçaram as greves tematizadas. Em Cabra, esse fenômeno também está presente. “Alguns dos camponeses se deslocaram para São Paulo e para o Rio de Janeiro para trabalhar, como os filhos de Elizabeth Teixeira. É possível dizer que eles têm destinos semelhantes dos que alcançaram o ABC paulista e que depois vieram a participar das greves de 1979 e 1980” (LOPES, 2017). Iremos analisar o caso de Cícero Anastácio, que campônes em Cabra/64, está metalúrgico no Estado de São Paulo em 1981. Utilizaremos como metodologia uma passagem do doutorado de Mariana Souto demonstrando que a análise comparatista pode estender teias entre filmes e relacionando A Opinião Pública (1967), de Arnaldo Jabor, com Edifício Master (2002), de Eduardo Coutinho, ela propõe: “é como imaginar que as pessoas que antes estavam nas praias, boates e ruas de Copacabana agora, mais envelhecidas, solitárias e num contexto de maior individualismo, se escondessem nos conjugados do Ed. Master” (SOUTO, 2016). Em diálogo com Prof. Dr. Ismail Xavier percebe-se então ‘uma transformação, que insere os problemas que estão sendo vividos no presente como parte de uma lógica que ultrapassa o presente e está, enfim, projetada historicamente’ (XAVIER apud SOUTO, 2016). Em Peões, no momento histórico em que o PT ascendia ao poder com a eleição de Lula, o documentarista volta-se para os anônimos das greves buscando investigar o presente dessas pessoas à luz dos acontecimentos passados, e é possível perceber que, após as greves, aceleraram-se os processos de modernização e mecanização da indústria, causando novamente uma atomização dos trabalhadores, como ocorrido antes com os camponeses: Para além do sentimento de nostalgia do auge das mobilizações operárias, e das lições a tirar para as lutas de futuras gerações, resta que Peões, complementado por Cabra marcado para morrer, é um documento essencial para se compreender as transformações sociais sofridas pelas classes trabalhadoras brasileiras em suas especificidades rurais e industriais na segunda metade do século XX (LOPES, CIOCCARI, 2017) Assim chegamos a Januário. Ele compara o desemprego vivido em 2002, em relação a abundância de emprego na década de 1980 e nesta trilha, sintetiza a modernização na linha de montagem e sua consequência para a organização dos trabalhadores: “Você vai na Volkswagen, é brincadeira. O dia que o Lula foi lá, falei ‘imagina fazer uma greve com esse povo ae, só computador”. Uma atomização do trabalhador que fica patente em Peões pela escolha formal por entrevistas em ambientes privados com pessoas solitárias em quadro. Em 1984, escrevendo sobre Cabra, Roberto Scharwz observou: A mercantilização das relações de trabalho em geral, e da produção cultural em particular, nestes vinte anos avançaram muito. Outras formas de sociabilidade tornaram-se quase inimagináveis em nosso meio, o que pode não ser um mérito, e em todo caso mostra quanto a realidade do capitalismo se aprofundou e consolidou no período (2013, in OHATA) Ou seja, ao passo em que Scharwz se refere aos processos no campo, ocorridos de 1964 a 1984, o mesmo, de alguma maneira, pode ser observado nos processos urbano-industriais do interregno compreendido no filme Peões, 1981 a 2002. |
|
Bibliografia | GERVAISEAU, H. O abrigo do tempo: abordagens cinematográficas da passagem do tempo. São Paulo: Alameda, 2012. |