ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Seria Ôrí um filme do domínio do ensaio? |
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Autor | Reginaldo do Carmo Aguiar |
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Resumo Expandido | O filme-ensaio para Corrigan (2015) é uma forma expressiva de estar no mundo aberto às mudanças dessa experiência, num embate entre a subjetividade do sujeito (Eu) e o momento histórico por ele experienciado (domínio público). Almeida (2018) posiciona o ensaio não como categoria, mas como gesto ou inflexão de uma experiência de um sujeito (Eu) em fricção direta com o seu entorno (Mundo). Seria uma vivência radicalmente singular ao deixar afetar-se de forma complexa e inteira com o Mundo que o(a) circunda, sendo o produto ou a expressão audiovisual um pensamento por – e com – imagens. Os cine-ensaios são filmes refratários a campos já consolidados e de uma perspectiva não universalizante, carecem ainda de um rigor canônico. Por isso podem ser caracterizados como estéticas mais livres ou como as mais fugidias das formas de reflexão. Tendo como proposta respostas inacabadas, inquietações, dúvidas e aberturas reflexivas. Geralmente conceituado por meio “do que é” sobre “aquilo que não é” (negatividade ontológica). O ensaio no contexto internacional ganhou consistência a partir dos anos de 1990 (TEIXEIRA, 2015; ALMEIDA, 2018) não somente na produção de filmes quanto pelo interesse acadêmico sobre o assunto. Apesar do esforço hercúleo nos últimos anos de Elinaldo Francisco Teixeira em criar uma arqueologia de inflexão ensaística no Brasil. Todavia, raras são as produções ou os estudos teóricos sobre inflexões ensaísticas com protagonismo negro no Brasil. Há em Ôrí, um eu com o coletivo como estratégia formal e via de incursão; um negociar com as distintas vozes e personagens; um imaginário de navegador para pensar a ancestralidade e questões pertinentes da identidade negra pela experiência diaspórica. A subjetividade, a experiência e a poética pensante são apresentadas por meio de um ponto de vista subjetivo do ensaísta, sejam os estados conscientes e inconscientes do próprio ato de pensar, principalmente como discurso, sejam as “ambiguidades”, o jogo de palavras e a polissemia. Este trabalho visa responder uma das minhas questões do mestrado sobre se o filme Ôrí estaria no domínio do ensaio fílmico. A inclusão neste domínio ensaístico se deve metodologicamente por satisfazer aos seguintes critérios: 1) Conforme Corrigan (2015): o teste de uma subjetividade expressiva, uma subjetividade ensaística; a relação da subjetividade com a experiência pública; o encontro entre uma personalidade aberta e proteica com a experiência social que produz a atividade do pensamento ensaístico; em determinados subgêneros do ensaio fílmico em que a reflexão subjetiva diante do espaço público seja enfatizada: autorretrato e autobiografia ensaística e o cinema ensaístico de viagem; 2) Conforme Teixeira (2015): características cinematográficas do cinema moderno evidenciados no filme pelos parâmetros dialéticos burchianos e pelas imagem-tempo deleuzianas em boa parte da obra e por um cinema contemporâneo que preza a heterogeneidade de estéticas; o hibridismo ou o formato proteico na produção do filme como no caso do fotojornalismo expandido e do fotofilme empregados. Por fim, a câmera subjetiva indireta livre e o uso do monólogo interior; 3) Conforme as vozes ensaísticas empregadas: enquanto política da voz (DOANE, 1983); a voz metacrítica (RASCAROLI, 2009); a voz heteroglóssica (LUPTON, 2011); e a voz pneumática (SIEREK, 2007). O discurso de Beatriz Nascimento é montado, sobretudo, como uma voz pneumática e heteroglóssica e por um pensamento fragmentado, ora objetivo, ora subjetivo pela combinação singular de matrizes audiovisuais típica dos filmes ensaísticos que potencializam as comunidades da margem. 4) Por ter uma configuração estética enquanto um ensaio sobre o pensamento negro. Trazer luz a Ôrí enquanto cinema ensaio é revelar sua riqueza estética, estimular novos centros de saberes e tensionar um campo de produção cinematográfica e de estudos que está totalmente ligado às epistemologias eurocêntricas. |
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Bibliografia | ALMEIDA, G. O ensaio fílmico ou o cinema à deriva. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2018. |