ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Maranhão: perspectivas e contradições de um mercado invisibilizado |
|
Autor | Andréia de Lima Silva |
|
Resumo Expandido | Esta pesquisa tem o objetivo de investigar de que forma se configura o cinema do Maranhão a partir da caracterização da produção e do consumo de longas-metragens de ficção maranhenses. Nesse sentido, queremos compreender a cena peculiar que o Estado ocupa no mercado cinematográfico brasileiro, já que ao mesmo tempo que possui um dos festivais de cinema mais antigos do país (Festival Guarnicê, que vai para a sua 44ª edição em 2021), as produções de ficção em formato de longas-metragens tiveram suas primeiras incursões apenas em meados dos anos 2000. Em tabela desenvolvida pela pesquisadora (SILVA, 2018), e atualizada em 2020, catalogamos vinte filmes produzidos no Estado. Dentre eles, até 2019, apenas quatro foram registrados na Agência de Cinema Brasileira (ANCINE), o que torna a produção maranhense invisível em nível nacional. Paralelo a isso, as produções de comédia realizadas no Estado possuem atualmente cerca de 24 milhões de visualizações no YouTube. Uma dessas produções, Muleque té doido 2 (2016), ocupou a 25ª posição entre os filmes brasileiros mais vistos naquele ano, de acordo com dados da ANCINE, sendo que o filme foi lançado apenas no Maranhão. Esse cenário fértil e promissor na cinematografia maranhense recente nos apresenta um ambiente cheio de riquezas e contradições. Trata-se de um mercado que muitas vezes se retroalimenta, pois poucos são os filmes que circularam em festivais fora do Estado e menos ainda foram aqueles que entraram em cartaz em salas de cinema não maranhenses. Quando analisamos esta cena de forma pontual e cronológica o que se revela é uma história marcada pela informalidade, legislação pouco atuante ao longo da história e nenhum curso superior em cinema e/ou audiovisual em universidades públicas nem privadas. Ao compararmos o panorama do cinema maranhense com outros da Região Nordeste, observamos dados que, possivelmente, explicam a sua condição periférica até mesmo em nível regional. No Nordeste, o Maranhão divide a condição de não ter curso superior na área de cinema e audiovisual com o Piauí e o Estado de Alagoas. Na lista de filmes brasileiros lançados por unidade federativa do ano de 2019, a última divulgada pela Agência Nacional de Cinema (ANCINE), nem o Maranhão nem Alagoas aparecem com produção de filmes. Já o Estado do Piauí surge com um documentário em coprodução com o Rio de Janeiro. No caso do Maranhão, um agravante seria o fato de que a maioria das produções lançadas localmente passam despercebidas em âmbito nacional, pois não foram registradas na ANCINE. Por tudo isso, podemos nos questionar: a que se deve tal informalidade do mercado cinematográfico maranhense? Seria leviano atribuirmos uma única resposta a um problema tão complexo, porém quando começamos a pontuar alguns dados sobre o Estado fica evidente os fatores que, possivelmente, levaram a esse cenário. Primeiramente, a questão econômica é certamente um elemento influenciador, na medida em que o Maranhão é um Estado com altos índices de pobreza ao longo de sua história. Segundo dados do IBGE, o Estado é o quarto em população na Região Nordeste, com cerca de sete milhões de habitantes, sendo, contudo, o segundo na região com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – 0,639 –, perdendo apenas para Alagoas (0,631). Mas é no Rendimento mensal domiciliar per capita que o Maranhão possui os piores índices. A média é de R$ 636,00 por família. Vale ressaltar que cinco dos nove Estados da Região Nordeste a média é acima de R$ 900,00. É preciso, portanto, tornar o mercado cinematográfico maranhense mais profissional e competitivo. Para isso, são necessárias políticas públicas não só para o financiamento de filmes, mas que incentivem a profissionalização, a formação de plateia e a diversidade dessas produções. |
|
Bibliografia | ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. Recife: FJN. Ed. Massaragana, 1996. |