ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | A voz em VT Preparado AC/JC (1986), P. Vieira e W. Silveira. |
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Autor | CLOTILDE BORGES GUIMARÃRS |
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Resumo Expandido | Estudos sobre a voz no cinema narrativo e documentário tratam a fala e a voz na perspectiva de atribuição de sentido e investigam aspectos da relação da voz com o corpo, do corpo com o espaço e da voz com o poder, como o artigo de Mary Ann Doane (1983, p. 455), e o livro de Michel Chion sobre a voz no cinema (2004), no qual o autor cria e adapta termos para designar vozes sem corpo e suas localizações em relação à tela, a importância da palavra falada como a estrutura em volta da qual os outros sons se organizam dentro de um filme. Michel Chion denomina esse tipo de uso da palavra falada no cinema como fala-teatro (CHION, 2011, p. 134) e como fala-emanação, aquela que não é ouvida e compreendida na íntegra, tornando-se uma emanação dos personagens (CHION, 2011, p. 138). Recurso, segundo ele, usado raramente, no qual a fala é relativizada e que ele chama de cinema sonoro descentrado, oposto de um cinema verbo-centrado. No vídeo selecionado existe uma experimentação na qual a voz é tratada como vocalidade (por suas qualidades sonoras e não semânticas), e não como oralidade (uso da voz com produção de significado) ou como sujeito de enunciação. No campo da música erudita, a crescente valorização do timbre nas práticas composicionais e as pesquisas por novas sonoridades contribuíram para que no início do século XX a voz pudesse se libertar das amarras do bel canto, incorporando seus índices de corporalidade: a fala, expressões vocais não-linguísticas (gritos, sussurros, choro, riso) e ruidismos bucais. Essa nova estética da voz, nascida do cruzamento das pesquisas teatrais com o corpo e a voz, da poesia fonética e sonora, da música concreta, eletroacústica e indeterminada, também dialogou com o jazz, o rock, e com o canto experimental. Este vídeo de 1986 é resultado do registro da apresentação que John Cage e Augusto de Campos fizeram no Brasil durante a XVIIIa Bienal de São Paulo, em 1985, e de entrevistas realizadas nesse mesmo evento. Nessa ocasião, ocorreu o lançamento do primeiro livro de John Cage em português, traduzido por Rogério Duprat e revisado por Augusto de Campos, "De segunda a um ano", publicado nos EUA em 1967. À proposta cageana da escuta dos sons do mundo e seus questionamentos a respeito do silêncio, foi somada a poética verbivocovisual do grupo concretista a que Augusto de Campos pertencia. Para Cage (1961), o músico poderia ser um organizador de sons, sem distincão entre sons musicais ou não, e, para o poeta concreto Augusto de Campos, a dimensão sonora da palavra deveria ser valorizada. Os autores definiram que o som tinha que ser como uma música de John Cage, e as imagens, “desreguladas” como o piano preparado de Cage, por isso o nome do vídeo. Decidiu-se fazer a edição do som antes de editar qualquer imagem. Vieira declarou: “Eu tentei fazer uma música, por isso eu editei o som primeiro, é uma composição de ruídos”. O processo se constituiu de usar o silêncio, ouvir e selecionar sons, aplicar efeitos, como a mudança de velocidade, de intensidade, ou gravar o trecho no sentido contrário (reverse), alterar a afinação, deixando mais grave ou agudo (filtragem de frequências), ou colocar eco. Virgínia Flores (2013) já havia observado uma similaridade dos processos de edição e mixagem sonora usados no cinema com os da Música Concreta. Para a autora, o editor de som pratica o que Pierre Schaeffer denomina de escuta reduzida, quando escuta os sons registrados para selecionar e editar, valorizando suas características intrínsecas em detrimento de sua fonte geradora. Esta obra demonstra as possibilidades adquiridas para o uso do som com a utilização de uma ilha de edição de vídeo U-Matic, além disso, de uma certa forma, retrata uma cena artística, musical e literária, que John Cage encontrou no Brasil de 1985 e alguns de seus personagens: Augusto de Campos, Décio Pignatari, Arrigo Barnabé, Wally Salomão, dentre outros. |
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Bibliografia | CAGE, John. Silence. Wesleyan University Press: Hanover, 1961. |