ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | As doenças da mídia: contágio infodêmico no cinema de horror |
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Autor | Klaus Berg Nippes Bragança |
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Resumo Expandido | Momentos de pandemia como o que vivemos são constantes na história e determinam mudanças significativas em nossos comportamentos sanitários e sociais como medida de prevenção. A disseminação desenfreada do Sars-Cov-2 revitalizou um medo resistente, incubado em nosso imaginário: a volta das doenças contagiosas. Os relatos produzidos durante episódios epidemiológicos do passado parecem espelhar a mentalidade e a atualidade do momento vivido. Essas “crônicas da peste” servem como um acervo histórico que nos ajuda a traduzir o horror do presente. Entre as alegorias mais repetidas nestas crônicas está o tema da “Dança Macabra”, como modo de personificar a proximidade da morte. As danças macabras eram compostas com cadáveres e ossadas que se relacionavam junto aos sobreviventes, ora de maneira mais ameaçadora e repugnante, ora mais descontraída e animada, como comenta Maria Riberio: “nessas ilustrações, vários esqueletos dançam com pessoas de diferentes idades e situações sociais” (2012, p. 71). Além da arte, há um apresso dos meios de comunicação pelas doenças, renovado a cada surto epidêmico. Para Bertolli Filho (2012) a mídia emprega um discurso insistente que tende, mesmo sub-repticiamente, a preservar uma visão fatalista sobre o futuro da humanidade. Trata-se de uma pauta pública rotineira que esmiúça dramas e tragédias pessoais através de metáforas que exploram os medos e as consequências sociais das doenças. Tais propriedades metafóricas são analisadas por Susan Sontag nas mensagens midiáticas sobre a Aids. Para Sontag “a genealogia metafórica da aids é dupla. Enquanto microprocesso, ela é encarada como o câncer: como uma invasão. Quando o que está em foco é a transmissão da doença, invoca-se uma metáfora mais antiga, que lembra a sífilis: a da poluição” (1989, p. 21-22). Enquanto doença invasora, a Aids foi retratada como “um agente infeccioso que vem de fora”, sendo que a mídia produziu imagens e narrativas distintas de uma “doença infiltrando a sociedade”. Metáforas de teor pejorativo e preconceituoso, como “câncer gay” ou “peste gay”, foram associadas à “impureza” de grupos minoritários acusados de espalhar a doença. Na década de 1990, a partir da popularização da informática e da internet, houve uma conjugação das doenças à cultura digital. Uma “cultura viral”, segundo Jeffrey Weinstock (1997), marca de uma sociedade obcecada com a fobia do contágio. Os traumas adquiridos com os vírus biológicos despertaram novas fobias associadas aos “vírus tecnológicos”. Esta associação entre doenças e tecnologia é apresentada em filmes sobre epidemias derivadas do mau uso da tecnociência, e também nas que são adquiridas através da tecnologia, como analisa Daniel Dinello: “como uma infecção viral, a tecnologia se desenvolve em uma força autônoma e invasiva que se expande e cumpre seu potencial perigoso” (2005, p. 247). No século XXI, “viralizar” tornou-se um termo adotado para avaliar a capacidade de dispersão de determinado conteúdo de mídia, como uma “informação viral”. Durante a pandemia do novo corona vírus, John Zarocostas (2020) alertou a OMS sobre uma doença oportunista surgida com a crise sanitária e que se espalhava de maneira tão veloz quanto a própria covid-19: a infodemia. Na rubrica “horror de pandemia” defendida por Johan Höglund (2017), as epidemias midiáticas não são um fenômeno tão evidente quanto a onda infodêmica atual. Podemos remontar a David Cronenberg em seu Videodrome: A síndrome do vídeo (1983), cujo enredo propõe um contágio a partir das mensagens televisivas. Já em À beira da loucura (John Carpenter, 1994), os romances de um escritor são capazes de afetar seus leitores, transformando-os em assassinos enlouquecidos. O filme de Bruce McDonald, Pontypoll (2008), oferece uma narrativa em que as transmissões de rádio provocam uma infecção semântica em seus ouvintes. E Celular (Tod Williams, 2016) explora uma epidemia alastrada através do telefone celular, uma “doença digital” contraída por aparelhos e usuários. |
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Bibliografia | BERTOLLI FILHO, C. “Novas doenças, velhos medos: a mídia e as projeções de um futuro apocalíptico”. In: MONTEIRO, Y. N.; CARNEIRO, M. L. T. (Org.). As doenças e os medos sociais. SP: FAP-UNIFESP, 2012, p. 13-36. |