ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | A formação do som no cinema documentário |
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Autor | Renan Paiva Chaves |
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Resumo Expandido | Argumento nessa apresentação que a formação do aparato estilístico e ético dos aspectos sonoros do filme documentário que se estabelece a partir dos anos 1930 envolve, de forma contigente, a combinação de três principais elementos da prática sonora do período mudo do cinema. Para dar cabo à discussão, visito, além de filmes dos anos 1920 mais consensualmente entendidos como da tradição documentária, os cinejornais e filmes da vanguarda. E o faço porque é a partir de práticas sonoras ligadas a eles que paradigmas e recursos crucias para o campo documentário se conformam. Embora nenhum desses elementos sozinhos provoque diretamente o surgimento de uma concepção de som no documentário (ou de documentário sonoro), existe um legado contigente deles que ressoaria no período sonoro – ao lado das construções retóricas e dos propósitos sociais que então emergeriam na tradição documentária (para os quais, a voz over e o diálogo desempenhariam papeis fundamentais). Organizo a exposição em três eixos: 1) A constituição de uma concepção embrionária sobre a sonorização de imagens do “real”, que se conforma ao longo dos anos 1910 e 1920, especialmente em cinejornais, e que será paradigmática para as dimensões de factualidade e objetividade que a realização documentária, enquanto narrativa artística, encarará a partir dos anos 1930. O que aí está em jogo, sobretudo, são os meandros da representação transparente do real; 2) O desenvolvimento dos usos dramáticos e estruturais/ narrativos do som nos filmes de vanguarda e de não-ficção dos anos 1920. Além do desenvolvimento narrativo cinematográfico na dimensão visual – já acentuadamente observável a partir da primeira década do século XX –, é notável o desenvolvimento articulatório que ocorre no âmbito sonoro, especialmente a partir anos 1920 (tendo em mente o campo do não ficcional). Esse desenvolvimento contribui com a capacidade do cinema de ir para além das construções mais imediatas e conclusivas, presas à duração e à sensação em seu estado mais direto. De certa forma, a partir do desenvolvimento de eixos temporais relacionados a personagens, fatos, eventos etc., a narrativa, tanto em termos visuais quanto sonoros, começa a embutir, de forma mais significante, tanto contextos mais amplos quanto significados sociais e históricos ao que apresenta. O elemento sonoro-narrativo que brota desse contexto é chave para se entender o uso do som nas construções retóricas, históricas, sociais e de sujeitos fílmicos no documentário a partir da era sonora do cinema. 3) Os elementos relacionados aos processos de fragmentação, desfamiliarização, colagem e anti-ilusionismo que se notam nos atributos sonoros (e também visuais) de filmes que podem ser entendidos dentro das vanguardas da década de 1920 indicam caminhos distintos daqueles da representação transparente do real. Os elementos sonoros que daí emergem adicionam à balança – que já conta com um “paradigma do real” e com atributos narrativos – o peso da percepção mundana e da interpretação, iluminando a noção de subjetividade e autoria, aspectos fugidios da indexicalidade e da pré-existência do mostrado perante o momento da tomada. Muito da aura artístico-narrativa (ou do “tratamento criativo da realidade” griersoniano) que o documentário clássico incorporaria tem como precedente as práticas sonoras vanguardistas deste período. |
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Bibliografia | CHAVES, R. P. Pensamentos e práticas sonoras no documentário: trilha sonora, experimentação e sound design. Rebeca, v. 5, n. 1, p. 61-95, 2016. |