ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | O COSMOPOLITA NACIONAL: OS CINEMAS DE ARTE E O FILME BRASILEIRO |
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Autor | Vitor Oliveira Côrtes |
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Resumo Expandido | Em sua origem, a ideia de se manter, no Brasil, um “cinema de arte” veio atrelada a um tipo de consumo multicultural, ou cosmopolita. Isto é, todo o filme poderia ser exibido nesse tipo de espaço, à medida que possuísse uma, ou série de qualidades, que o distinguissem frente à média das produções que chegassem ao mercado exibidor. Do período 1950-60, essa visão cosmopolita é a que parece se destacar nos textos de Ely Azeredo – que, em companhia de Alberto Shatovsky, parece ter sido dos críticos e jornalistas cariocas que mais incentivou o desenvolvimento e formação desse tipo de sala. Tendo em vista que a procedência dos filmes não adquiriu qualquer critério especial aos cinemas de arte, a inserção do produto brasileiro nesse espaço não deixava de ser fato impossível, mas sujeito a inflexões da mentalidade crítica em voga – que, a bem saber, apresentava matizes diferentes sobre o cinema nacional. Quanto a isso, basta mencionar que o primeiro Conselho Consultivo, formado sob inspiração do que teria sido o pioneiro cinema de arte do país – o Cine Mesbla, na cidade do Rio de Janeiro – reunia desde os mais severos intérpretes do filme brasileiro – a nível de um Moniz Vianna e Décio Vieira Ottoni – como também seus analistas mais contemporizadores – a exemplo de Pedro Lima e Alex Viany. Apesar disso, essa suposta vertente multicultural, ou cosmopolita, teve um maior aprofundamento sobre o cinema nacional a partir dos anos 1970, quando as propostas voltadas à criação do Estatuto dos Cinemas de Arte passaram a incluir o desenvolvimento do filme brasileiro – ou melhor, de determinado “tipo” de filme brasileiro – como estímulo para se consolidar a formação de um circuito voltado a salas de arte. Ou seja, propunha-se que o estímulo às salas em foco também produzisse, no Brasil, estímulo à produção de filmes “médios” e “menores”, nas palavras de Alberto Shatovsky. Filmes que, em tese, apresentariam dificuldades – quando mesmo, total impossibilidade – de serem exibidos, caso sua apresentação ficasse limitada ao que seria o mercado exibidor tradicional. Fruto, talvez, do aumento sobre a produção cinematográfica ao final dos anos 1960, a partir da década seguinte, portanto, o cinema nacional agora passava a ser inserido como uma das justificativas principais a fim de que se incentivasse a criação das salas de arte – e para isto, defendendo-se também a criação do Estatuto dos Cinemas de Arte, fator indispensável, diga-se, para o fortalecimento de uma cadeia de salas desse tipo. Porém, o Estatuto em questão jamais chegou a ser aprovado, tendo como um de seus opositores Roberto Farias – último presidente do Instituto Nacional de Cinema e, logo depois, da Embrafilme. Nessa disputa, é possível notar reflexos do conflito existente no setor cinematográfico nacional que, no período 1950-60, Ortiz Ramos classificou entre o grupo “nacionalista” e o “industrialista-universalista”. Talvez devido à posição de liderança na política cinematográfica nacional, Farias se utiliza de discurso que abrange os dois polos. Num lado, colocando-se avesso a tentativas de coibir a livre iniciativa – no sentido de não proibir a vinda do filme estrangeiro sobre o país. Noutro lado, porém, antagonizando-se a uma mentalidade de espetáculo que procederia a uma distinção do público – segundo Farias, uma distinção produto dos cinemas de arte, levando com que se formassem supostos “guetos culturais” – como também pontifica que seu interesse maior é pelo desenvolvimento do “filme de arte brasileiro”. Este trabalho busca, portanto, traçar a inserção do filme brasileiro nos cinemas de arte, discutindo brevemente a fase de 1950-60, e alongando-se no papel de destaque que o cinema nacional acabou por ganhar nos anos 1970, tendo em vista o projeto do Estatuto dos Cinemas de Arte. Chegando-se, por fim, a uma discussão sobre o embate que levou à derrocada do projeto, tendo os conceitos de Ortiz Ramos como referenciais explicativos. |
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Bibliografia | AZEREDO, Ely. Operação Exorcismo. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 16 de jun. de 1958. Suplemento Dominical. Cinema, p. 6. |