ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Assombrações (de)coloniais: as ruínas de Fordlândia. |
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Autor | Roberto Robalinho Lima |
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Resumo Expandido | Entre 1920 e 1940 Henry Ford se engajou na construção da cidade de Fordlandia no coração da floresta Amazônica. Não se tratava apenas de dominar a cadeia de produção e distribuição de borracha para suas fábricas nos Estados Unidos, mas de impor à selva os modos de vida e produção do Fordismo. Ford desejava erguer, no meio da selva tropical, um modelo civilizatório e organizacional de uma cidade do meio oeste americano guiada pela temporalidade, ética e organização do trabalho fordista. Como aponta o historiador Greg Grandin (2009), não era apenas sobre a otimização da produção, mas a arquitetura cidade em linhas retas e retangulares, os clubes de leitura para discutir Walt Whitman e os encontros de “square dance” no fim de semana, apontavam o desejo de implementar o modo de vida do midwest americano em plena selva Amazônica, com seus ritos cotidianos e mundo sensível. É comum pensar em Fordlandia a partir do embate entre homem e natureza, entre progresso e atraso ou, mais precisamente, a partir da separação fundante da modernidade, do embate entre natureza e cultura (Mignolo 2012, Quijano 2000). Embate este, eventualmente vencido pela selva que devorou o sonho fordista, seja pelas pragas, as doenças tropicais, a logística, as greves de trabalhadores ou mesmo a preguiça (Grandin, 2009). Alguns artistas visuais contemporâneos e documentaristas realizaram obras a partir das ruinas de Fordlandia, a proposta desta comunicação é olhar para três delas: Fordlandia de Meanie Smith (2016), Fordlândia, as ruínas de um projeto extrativista de Yuri Firmeza (2019) e Fordlandia Malaise de Suzana de Souza Dias (2019). Estas três obras, produzem uma estranha temporalidade a partir dos restos da cidade: objetos, edifícios, máquinas que permanecem cobertas pela vegetação e habitadas por animais diversos. Como também propõe uma corporalidade complexa imbricada entre corpos da natureza e corpos humanos. As imagens, ao olharem o presente das ruínas, evocam um passado que se projetava como futuro, no entanto, o que nos impacta é que, o futuro expresso nas ruínas não é apenas um imaginário de um progresso que nunca chegou, mas justamente o nosso próprio presente – da crise do modelo industrial fordista. Neste sentido, a história esquecida de Fordlandia produz um fantasma do e no presente que toma corpo a partir das obras. O que significa pensar nesse deslocamento temporal e fantasmático? O que estas imagens produzidas a partir de Fordlandia nos dizem sobre o embate entre natureza e cultural? Como esses deslocamento nos ajuda a pensar nosso próprio presente e a crise climática, nosso embate contemporâneo mais dramático entre natureza e cultura? |
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Bibliografia | Grandin, Greg. 2009. Fordlandia: the rise and fall of Henry’s Ford forgotten jungle city. Metropolitan Books. |