ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Da literatura ao cinema: por uma teoria da influência cinematográfica |
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Autor | Luiz Fernando Coutinho de Oliveira |
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Resumo Expandido | No campo da literatura comparada, a busca por “fontes e influências” fundamentou-se na construção de filiações entre diferentes escritores. Autores como René Wellek (1994) criticaram nesta abordagem comparatista o acúmulo mecânico de paralelos, semelhanças e identidades entre as obras. Para ele, compreender a obra de arte como mero somatório de trabalhos anteriores era um erro: era preciso compreender a obra como “conjuntos em que a matéria-prima vinda de outro lugar deixa de ser matéria inerte e passa a ser assimilada numa nova estrutura” (WELLEK, 1994, p. 111). Apesar de seus esforços e de outros, “influências poéticas continuam a ocorrer e a despeito das indiferenças dos críticos” (GUILLÉN, 1963, p. 149). Harold Bloom, importante teórico dos estudos literários, devotou grande parte de seus escritos à noção de “influência poética”, elaborando uma teoria da poesia estritamente ligada à história das relações que os poemas mantém entre si – relações que ele designa como “intrapoéticas”. Segundo o autor, poetas tardios travam com poetas do passado uma espécie de confronto agonístico em que os primeiros buscam superar a influência dos segundos, prevenindo-se da morte criativa e abrindo para si um espaço imaginário próprio. A história da poesia, para Bloom (2002, p. 56), “é indistinguível da influência poética, uma vez que os poetas fortes fazem essa história distorcendo a leitura uns dos outros”. Em seu texto “Tradição e talento individual”, T. S. Eliot afirma que a tradição literária envolve um sentido histórico em que o poeta é levado à percepção da presença incontornável do passado. Neste sentido, o poeta escreve “não somente com a própria geração a que pertence em seus ossos, mas com um sentimento de toda a literatura europeia desde Homero” (ELIOT, 1989, p. 39) – o que Eliot cunha de “mente da Europa”. A análise de determinado poeta só se torna possível através da “apreciação de sua relação com os poetas e os artistas mortos” (ibidem), isto é, a partir das comparações que situam este poeta entre os literatos do passado. Quanto à evolução do artista, ela consistiria em um contínuo apagamento da personalidade do poeta, consonante à consciência que este adquire do passado: para contribuir com a tradição enquanto talento individual, o poeta deveria abdicar paulatinamente de sua personalidade e reconhecer a importância mais decisiva da “mente da Europa” em que ele se insere. Em Harold Bloom, por outro lado, a luta agonística entre poetas consiste em um conflito pela soberania do talento individual em detrimento da tradição literária. Enquanto Eliot busca apenas situar o poeta em uma história da poesia (uma história que conduz à extinção da individualidade poética), Bloom busca singularizá-lo a partir da distorção que o poeta realiza de seus antecessores (em abordagem que privilegia, justamente, a individualidade). No entanto, esta distorção, que Bloom (1994, p. 16) chama de “desapropriação poética ou desleitura criativa”, não permite “uma autonomia de significado totalmente presente, livre de todo contexto poético”; isto porque todos os poemas pertencem a uma história da poesia na medida em que com ela dialogam inevitavelmente. Os instrumentos metodológicos de Harold Bloom, nomeados “proporções revisionárias”, são próprios à leitura poética. Conscientes disto, será que poderíamos estender suas reflexões sobre influência ao campo do cinema? Na medida em que qualquer poema, para Bloom, é um “interpoema”, por nunca ser “escritura, mas re-escritura”, poderíamos ponderar sobre a possibilidade de qualquer filme ser um “interfilme”, por nunca ser exatamente filmagem, mas refilmagem? É possível uma história das formas cinematográficas que contemple as revisões e distorções que os filmes realizam de filmes precedentes? A comunicação tem por objetivo partir destes questionamentos para seguir rumo à compreensão da noção de influência no cinema, atentando para os obstáculos metodológicos e conceituais que se impõem diante do percurso. |
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Bibliografia | BARTHES, R. O grau zero da escrita. São Paulo: Martins Fontes, 2000. |