ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | As mulheres operárias no cinema de Chris Marker e Carole Roussopoulos |
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Autor | Julia Gonçalves Declié Fagioli |
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Resumo Expandido | Os movimentos estudantil e operário de maio de 1968 foram considerados uma revolução cultural masculina. A produção cinematográfica francesa nesse período também se destacou; particularmente a produção coletiva, com preocupações tais como a relação entre os cineastas e os trabalhadores, os modos de produção e distribuição dos filmes, e, não menos importantes, as invenções estéticas. A produção do cinema militante diz respeito não apenas ao conteúdo de que trata, mas também à forma do filme. O cineasta-operário de Besançon, Henri Traforetti (2006), por exemplo, coloca questões em torno do que filmar, por qual razão, a partir de qual ponto de vista. Tratava-se de dar a palavra aos “proletas”, àqueles que não a tem ou nunca a tiveram. Algo que, de certo modo, este trabalho se dedica a averiguar. Ao redefinir a história das formas do cinema combativo e militante dos anos 1960 e 1970, Nicole Brenez (2006) coloca Chris Marker como uma das principais referências. Em texto posterior, acrescenta a essa lista o trabalho de Carole Roussopoulos, considerando-a uma gigante do cinema político (2020). Interessa-nos, neste trabalho, analisar como as mulheres operárias participam desse cinema, de que maneira se engajam, qual era sua realidade, quais eram suas reinvindicações. Nossa proposta é analisar quatro filmes de diferentes perspectivas sobre a luta operária das mulheres no contexto estudado. O objetivo é perceber como o olhar lançado à mulher operária se altera no momento de retomada dos arquivos dos filmes anteriores. Uma primeira perspectiva diz respeito aos filmes Até logo, eu espero (Chris Marker, 1967) e Classe de lutte (Groupe Medvedkine, 1969). Em uma iniciativa fundante do cinema operário e militante, Marker realiza o filme ao lado dos operários durante uma ocupação da fábrica Rhodiaceta em Besançon. Além de filmar o interior da fábrica, Marker realiza entrevistas com os operários em suas casas. É neste momento que as mulheres aparecem: exercendo um papel de esposas, apesar de muitas delas trabalharem fora. Mal sabia Marker, ao filmar uma tímida dona de casa, que filmava Suzanne Zedet, que, em Classe de lutte, assume o protagonismo de sua própria militância. A transformação é ressaltada através da retomada dos arquivos. Com mulheres e homens trabalhando e lutando por seus direitos, colocamos, ainda como forma de pergunta, se a luta operária poderia ser compreendida como uma causa comum. A segunda perspectiva está nos filmes de Carole Roussopoulos LIP 1: Monique (1973) e LIP 5: Christiane e Monique (1976). Em LIP 1, a câmera de vídeo de Carole Roussopoulos filma uma manifestação, até que Monique toma conta do filme, com suas falas, suas expressões. Em LIP 5, Carole toma como ponto de partida a retomada das imagens de Monique do filme anterior e, em um novo encontro, realiza uma entrevista reveladora. Percebemos, aqui, a dupla opressão às mulheres: aquela de todo o sistema capitalista, representada pela figura dos patrões, mas, também, a opressão interna ao movimento operário. O filme aponta para o fato de que as mulheres raramente têm a palavra, e, quando a têm, suas reivindicações não são levadas a sério. Assim, o cinema operário e feminista de Carole Roussopoulos não apenas reconhece as mulheres como participantes fundamentais dos movimentos grevistas, mas aponta a reprodução da opressão no interior da luta operária. Interessa-nos, portanto, discutir como se dá, nos filmes e, particularmente na passagem de um a outro, na retomada das imagens, as imbricações entre a luta de classes e a feminista. Trata-se de vencer uma barreira entre o público e o privado, de estar na esfera pública de outra maneira. Os filmes – particularmente Classe de lutte e LIP 5 – ao dizerem de sua própria fabricação como recurso reflexivo, com a exposição das telas, microfones, bem como a maneira como as imagens são retomadas e montadas, já indicam uma participação efetiva das mulheres, não apenas como personagens, mas como sujeitos das lutas e dos filmes. |
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Bibliografia | BRENEZ, Nicole. História das formas, 1960 – 2000. Recine, Revista do Festival Internacional de Cinema de Arquivo. Rio de Janeiro, Ano 3, nº 3, dez 2006. |