ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Historicidade sincrônica na poética audiovisual de Valêncio Xavier |
|
Autor | Daniel Felipe Espinola Lima Fonseca |
|
Resumo Expandido | Uma das marcas da obra literária do brasileiro Valêncio Xavier (1933-2008) é a articulação do arquivo cultural de mídias, que garante à sua produção um caráter experimental na composição de arranjos inusitados que chocam a literatura com procedimentos de outras artes e mídias, bem como legam uma noção de leitura da historicidade a partir de um viés sincrônico. Partindo desse norte apontado por sua literatura, o presente trabalho estuda dois materiais audiovisuais do artista – que, além de autor de livros e idealizador da Cinemateca do Museu Guido Viaro (1975; atual Cinemateca de Curitiba), foi um realizador que deglutiu uma notória influência tardia dos cinemas modernos – à luz da mesma perspectiva de temporalidade. No curta-metragem O Corvo (1983), Xavier organiza afinidades que se reportam ao manancial tradutor que circunda o universo do poema The Raven (1845), do estadunidense Edgar Allan Poe (1809-1849). No filme, o Centro Histórico de Curitiba torna-se o cronotopo (BAKHTIN, 2018) local que mergulha na matriz universal de traduções do clássico e soturno poema narrativo. Não se trata de adaptação, mas de uma tradução criadora que se reconhece como tal e que pavimenta seu pertencimento entre os pares que se aventuraram pelo mesmo imaginário. Em Pinturas Rupestres do Paraná (1992), a montagem vertical estabelece analogias que aproximam o cinema, compreendido em sentido lato, da arte rupestre a partir das afinidades sincrônicas (JAKOBSON, 1974) operadas pelas texturas e sobreposições eletrônicas executadas em cima dos registros ancestrais. Por meio da deambulação do aparato de filmagem – a câmera é operada por Ozualdo Candeias, interlocução valenciana recorrente – por um sítio arqueológico no Paraná, a obra produz uma leitura singular das relações entre arte, linguagens e tecnologias. Olhando para a ancestralidade, o artista busca por uma pré-história do cinema, que é traduzida videograficamente. A produção tem um caráter ensaístico e articula um repertório que se reporta às formas fílmicas, sem se furtar a investigar especificidades do suporte eletrônico. Em ambos os trabalhos, traduzir o mundo a partir de seus códigos e dos meios tecnológicos que se têm à disposição numa determinada época são questões de primeira ordem: o passado, traduzido, ganha vestes contemporâneas e se projeta para o futuro. Acredita-se que o exame das obras contribua para a fortuna crítica do objeto, na medida em que investe em outros ambientes semióticos que não o da página impressa, mostrando lados diversos de um sistema criativo complexo e experimental que tomou a tradução intersemiótica como uma de suas características basilares. |
|
Bibliografia | BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance II: as formas do tempo e do cronotopo. São Paulo: Editora 34, 2018. |