ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | A audiodescrição como parte inerente ao processo de produção no cinema |
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Autor | Flávia Affonso Mayer |
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Resumo Expandido | O direito humano à comunicação e à cultura está na centralidade da discussão quanto à consolidação de práticas cinematográficas mais inclusivas. As barreiras de acessibilidade ao público com deficiência visual (PDV) são múltiplas e multifatoriais, sendo a superação das mesmas um compromisso cívico-democrático para promoção e efetivação da cidadania. Partindo deste contexto, o presente estudo objetiva entender como o cinema, em todo o seu potencial técnico e estético, pode potencialmente ser acessível a estes sujeitos. Amparada pela legislação – Lei 10.098, Lei 13.146, Instrução Normativa Ancine no 116/2014 e no 128/2016 – a audiodescrição vem ganhando cada vez mais relevância como uma das principais ferramentas de acessibilidade para atender às necessidades do PDV, o que também tem se refletido em exigências para o seu uso em editais de fomento à cultura e ao audiovisual. É preciso, no entanto, compreender a audiodescrição para além do cumprimento de normas, uma burocracia a ser atendida ao menor custo (humano e financeiro) possível. O direito de acesso à bens culturais é um uma forma de cumprir a função social do próprio campo cinematográfico, contribuindo para a formação de uma audiência mais consciente e crítica em relação ao próprio meio. Tal perspectiva suscita a discussão quanto a necessidade de capacitação efetiva dos profissionais a atuarem neste campo, considerando as especificidades da acessibilidade no cinema, como também a de lançar um novo olhar sobre a participação dos audiodescritores na cadeia produtiva – que atualmente acontece apenas com o filme finalizado, ou seja, já sem possibilidades de alteração em sua estrutura. Como as pesquisas vem evidenciando (PAGANO, MAYER, LOURENÇO, 2018), promover uma experiência inclusiva envolve pensar a acessibilidade como dimensão inerente à concepção de qualquer produto, respeitando o conceito de Desenho Universal. De acordo com a Disability Act (CENTRE FOR EXCELLENCE IN UNIVERSAL DESIGN, 2005), o Desenho Universal significa projetar produtos e ambientes de forma que eles sejam utilizáveis e acessíveis ao maior número possível de usuários, propiciando que os produtos e serviços possam ser experimentados/usados de maneira mais independente e natural possível. O conceito de Desenho Universal foi incorporado como um termo-chave pela Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2006. O Artigo 2 da Convenção acrescenta que o Desenho Universal não exclui o uso de tecnologias assistivas e/ou dispositivos para grupos específicos, quando necessário, mas advoga que os produtores devem visar uma estrutura que inclua a mais ampla gama de situações e a mais ampla diversidade de usuários possíveis, sem qualquer adaptação ou dispositivos especiais (ONUBR, 2006). Tal perspectiva incita pensar a constituição de uma estrutura de produção para o cinema que já identifique as possíveis barreiras de acessibilidade ao PDV desde o início do processo de produção, corroborando para que as soluções sejam encontradas desde a pré-produção. Isto posto, a discussão que aqui se pretende é a de pensar o que, quando, como audiodescrever em diálogo com a equipe de produção do filme e, mais ainda, como a imagem pode ser reconstruída na audiodescrição a partir desta perspectiva. Estudos sobre teorias da imagem, cinema, semiótica e estética (MARTIM; 2003, MACHADO; 2007, PIERCE, 1994) serão algumas das bases para se pensar estas questões. Por fim, a noção de inclusão como reorganização radical do sistema vigente para acolher a diferença, e o uso do Desenho Universal como caminho para essa reorganização, configuram-se como possibilidades a serem exploradas no presente estudo. |
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Bibliografia | CENTRE FOR EXCELLENCE IN UNIVERSAL DESIGN. Disability Act Irlanda, 2015. Disponível em: . |