ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Notas sobre um Apocalipse: Pasolini, Salò e os Escritos corsários |
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Autor | RENATO TREVIZANO DOS SANTOS |
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Resumo Expandido | O trabalho investiga uma ideia de Apocalipse a partir da produção final de Pier Paolo Pasolini, sua chamada “fase corsária” (cf. LAHUD, 1993; AMOROSO, 2002). Esta se manifestou em textos intempestivos em páginas de jornais – reunidos no volume Escritos corsários (2020) –, e também no filme Salò ou Os 120 dias de Sodoma (1975). As discussões de Pasolini nesse momento, especialmente entre 1970 e 1975, ano de seu assassinato, diagnosticam o fim de um momento histórico preciso, com o acelerado processo de modernização da Itália a partir do pós-guerra. É com sensibilidade de poeta e agudeza de crítico político que Pasolini evoca imagens potentes para designar esse período, tais como: o desaparecimento dos vaga-lumes; a tristeza dos jovens leiteiros; as marcas visíveis nos novos corpos da classe trabalhadora, do subproletariado e lumpesinato italianos, forçados à homogeneização pequeno-burguesa. “Jovens infelizes”, como no título da coletânea de ensaios corsários publicados anteriormente no Brasil, com tradução e organização de Michel Lahud (1990); alguns desses artigos também haviam sido publicados anteriormente em português no volume Escritos póstumos (1979), em Portugal. Todas essas imagens poéticas e políticas dizem respeito a um “genocídio” e a uma “mutação antropológica”, nos termos de Pasolini, que são também as suas maneiras de dizer um fim-do-mundo. Com Salò, violenta adaptação dos mais que violentos Os 120 dias de Sodoma ([1785] 2018), do Marquês de Sade, Pasolini chegou a ser acusado de sádico (redundante ou muito apropriadamente, nesse caso?) e até de fascista, quando em verdade seu filme soa como um aflito grito contra o horror do fascismo, que faz dos corpos objetos esvaziados de subjetividade, torturados e massacrados, por fim. Luiz Nazario (2007) se refere a Salò como o canto fúnebre do erotismo, outrora celebrado alegremente na Trilogia da vida. A pertinência dessas produções finais de Pasolini nos tempos atuais assoma incontornável, em especial por sua capacidade de prognóstico de uma virada histórica que hoje sentimos com todo o peso da realidade. |
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Bibliografia | AMOROSO, M. B. Pier Paolo Pasolini. São Paulo: Cosac & Naify, 2002. |