ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | A figura da ruína no cinema brasileiro contemporâneo. |
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Autor | TAINA XAVIER PEREIRA HUHOLD |
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Resumo Expandido | O tema da ruína não é novo. Diversas manifestações artísticas da modernidade (o cinema inclusive) se utilizaram deste imaginário, como aponta Adreas Huyssen: A modernidade como ruína já era um topos bem antes do século XX e, com certeza, antes do pós-modernismo. A ruína autêntica não deve ser entendida como uma essência ontológica de ruínas, mas como uma constelação conceitual e arquitetônica significativa que aponta para momentos de decadência, desintegração e arruinamento já presentes nos primórdios da modernidade, no século XVIII. (HUYSSEN, 2009, p. 94–95) Para analisar o espaço da ruína no cinema brasileiro contemporâneo se examinará a ideia de modernidade desde a perspectiva da qual a experimentam seus realizadores, a colonialidade. Entendida como um “novo paradigma de vida cotidiana, de compreensão da história, da ciência, da religião, [que] surge ao final do século XV e com a conquista do Atlântico” (DUSSEL, 2000, p. 29), a modernidade é intrinsecamente ligada à “estrutura lógica de domínio colonial”, conforme Walter Mignolo: Por uma questão de clareza, é conveniente considerar "modernidade / colonialidade" como duas faces da mesma moeda e não como duas formas distintas de pensar: você não pode ser moderno sem ser colonial, e se você está na extremidade colonial do espectro É preciso negociar com a modernidade, pois é impossível ignorá-la. (MIGNOLO, 2007, p. 32. Tradução nossa) Surgida como marco e inserida materialmente no processo de desenvolvimento e financiamento da modernidade e do capitalismo liberal (SADLIER, 2016, p. 114), a ideia de América como Novo Mundo reverbera na imagem dos Tristes Trópicos do antropólogo Claude Lévi-Strauss, que inspira a percepção sobre as diferenças entre as ruínas modernas coloniais e as europeias. O antropólogo nota tal diferença de forma geral entre a França o Brasil, observando que aqui a exploração extrativista “violenta” a terra, deslocando-se de acordo com as necessidades de extração, a cada ciclo econômico da colonialidade. O primeiro eixo de análise examina a direção de arte em filmes onde a ruína é identificada como marca de passados extrativistas no presente: “Açúcar “(Renata Pinheiro, 2017); “Ilha” (Glenda Nicácio e Ary Rosa, 2018) e “Todos os Mortos” (Caetano Gotardo, Marco Dutra, 2020). Para tanto, se busca articular a ressonância das materialidades dos espaços em ruína com a construção, tanto narrativa, quanto afetiva-sensorial das obras audiovisuais. Por ressonância entende-se o “poder do objeto exibido de alcançar um mundo maior além de seus limites formais, de evocar em quem os vê as forças culturais complexas e dinâmicas das quais emergiu” (GREENBLATT, 1991). Na São Paulo de 1935, a rápida deterioração percebida por Lévi-Strauss em outros pontos do país, apresentava-se sobreposta em um mesmo território. Deste olhar advém a imagem que inspirou Caetano Veloso na escrita do verso da canção Fora da Ordem: “Aqui tudo parece ainda construção e já é ruína”, que parece resumir a dinâmica da eterna construção/destruição a que são condenadas as grandes cidades do Novo Mundo, cuja “falta de vestígios” é vista pelo antropólogo como “elemento de seus significados” (LÉVI-STRAUSS, 1996, p. 91). Tal dinâmica se intensifica em diversos ciclos desenvolvimentistas do século XX e abarca outras capitais do Brasil. No Rio de Janeiro, especialmente com a proximidade dos eventos esportivos internacionais ocorridos na segunda década do século XXI, o ritmo da construção/destruição acelera-se vertiginosamente. Tal processo constitui-se como eixo narrativo dos filmes “O Prefeito” (Bruno Safadi, 2015) e “Mormaço” (Marina Meliande, 2018), analisados sob a chave do arruinamento como modus operandi que segue vigente. Vista em paralelo com o processo de “cenarização” do espaço urbano pós-moderno e globalizado (PEIXOTO, 1987), a ruína aqui parece sinalizar um desejo de reterritorialização do sujeito pós-moderno, desancorado de referenciais espaciais na era do não-lugar. |
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Bibliografia | DUSSEL, Enrique. Europa, modernidade e eurocentrismo. In: La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas latinoamericanas. Edgardo Lander (org.). Buenos Aires: CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2000. |