ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Questões de classe, racismo e religiosidade no filme Jubiabá |
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Autor | Maria Neli Costa Neves |
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Resumo Expandido | Racismo e humilhação são marcas que se estabelecem na trajetória do personagem afro-baiano Antônio Balduíno, do filme "Jubiabá" (1986), baseado no romance homônimo de Jorge Amado, e dirigido por Nelson Pereira dos Santos. Numa história passada nos anos 1930, em Salvador, na Bahia, período em que é iniciado o processo de industrialização e urbanização no Brasil, e quando a ideia de democracia racial é introduzida no imaginário nacional, isto é, a da população brasileira ser composta pela mistura harmoniosa das três “raças” fundantes - o branco europeu, o indígena e o afrodescendente - as imagens da infância do protagonista, e mais tarde, as de sua adolescência e juventude, mostram sua relação visceral com a cultura e a religiosidade afro-brasileira, simbolizadas pelo pai Jubiabá e os terreiros de Candomblé e, além disso, apresentam sua vivência de embates em consequência de ser constantemente desqualificado em termos raciais e por sua penúria financeira. A narrativa usa de recursos do realismo e do melodrama para enfocar as diferentes fases do percurso do personagem. Ainda criança, Balduíno é levado para habitar na residência de uma família branca abastada; ali ele desenvolve uma paixão platônica pela filha do chefe da casa, ao mesmo tempo que é confrontado no espaço, com “gestos cotidianos” que intentam “solidificar hierarquias” (SCHWARCZ, 2019, p. 45), o que envolve sua inferiorização e humilhação. A governanta do lugar dirige-se a ele nos seguintes termos: “Seu negrinho!”, “negro sujo!”, “negro é raça ruim. Só serve pra ser escravo”. Em determinado momento, Balduíno é espancado pelo senhorio e foge para as ruas, onde, coexistindo com outros meninos tão despossuídos quanto ele, passa a mendigar, jogar capoeira e fazer pequenos trambiques. Nas imagens da adolescência e juventude, o personagem manifesta sua revolta ao ser confrontado por palavras e gestos que o depreciam, mas é também tomado por esses estigmas no transcorrer de sua história, quando busca ser aceito e ganhar valor como “homem de sua sociedade e de sua época” (FERNANDES, 2008, p. 196), qualificado na “própria estrutura da sociedade de classes” (FERNANDES, 2007, p. 47). Os impasses que surgem na trajetória de Balduíno e as suas estratégias de sobrevivência servem como exemplos dos esquemas desumanizantes e denegatórios experimentados pelos afrodescendentes na fase republicana. Segundo Lilia Schwarcz (2019), após o fim da escravidão, no período republicano, o racismo emerge como um tipo de “troféu da modernidade”. (SCHWARCZ, 2019, p. 31). Em contraposição às agressões das instituições, das vivências nas ruas e do abandono do Estado, há as tradições religiosas e culturais afro-brasileiras que, centralizadas nos terreiros, significam amparo e reestruturação identitária aos seus afiliados. Segundo Muniz Sodré, “o terreiro de candomblé” é um centro de forças, “polo irradiador” da “reterritorialização do homem negro na diáspora” (SODRÉ, 2015, p.194) e criador de um “corpo grupal forte o suficiente para dar proteção contra as adversidades, contra o estrangeiro hostil” (SODRÉ, 2015, p. 195). Com base nos estudos de Florestan Fernandes, Lilia Schwarcz, Muniz Sodré e Ismail Xavier, essa comunicação pretende refletir sobre como as representações do filme "Jubiabá", no enfoque da trajetória de um afro-baiano nos anos 1930, articulam discursos que se antepõem à persistência do racismo na sociedade brasileira, indicam o papel desempenhado pela religiosidade afro-brasileira dentro desse cenário, as transformações que o início da industrialização do país traz à vida dos afrodescendentes, bem como para os reflexos do racismo na estrutura social do Brasil da contemporaneidade. |
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Bibliografia | FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes: (No limiar de uma nova era). Volume 2. São Paulo: Globo. 2008. |