ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | A luz de Nora |
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Autor | Julianna Nascimento Torezani |
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Resumo Expandido | O filme biográfico Nora dirigido por Alla Kovgan e David Hinton, lançado em 2008, conta a história da bailarina e coreógrafa Nora Chipaumire, que nasceu em Mutare, no Zimbábue, em 1965. A obra tem 35 minutos de duração, em cores e foi escrito pelos diretores e Chipaumire. Tem uma cuidadosa direção de fotografia feita por Mkrtich Malkhasyan, em que neste filme a luz se torna elemento estético e narrativo, colabora de forma pontual para contar a história que foi gravada em Manica, Moçambique. O filme é todo coreografado por Chipaumire, tudo remete a dança, as fases da vida são apresentadas com coreografias específicas. O que contempla o conceito de performance de Marvin Carlson (2009, p. 224): “processo infinitamente fascinante da autorreflexão pessoal, cultural e da experimentação”. Não há diálogo, ouvimos música em todos os momentos, a trilha sonora foi criada pelo músico Thomas Mapfumo (também do Zimbábue) e a história é narrada em cartelas em inglês, um dos idiomas falados no Zimbábue. O objetivo deste trabalho é analisar a cinematografia do filme Nora, tendo em vista a forma como este elemento foi pensado para contar a história da personagem. A análise foi feita a partir da pesquisa bibliográfica e documental em três partes, em cada uma é analisada uma fase da vida: a luz da infância, a luz da juventude e a luz do caminho. Pensar na direção de fotografia de uma obra requer um exercício de observar as imagens quanto aos planos, ângulos, cores, formas, movimentos. Para Andrea Scansani (2020, p. 215), “um movimento de câmera, uma aproximação a um rosto, um brilho específico no canto do quadro, a disposição dos corpos, suas relações, seus volumes, os tons do cenário, a textura de uma paisagem, da pele, da própria luz refletida na tela etc. Esses pequenos traços são os elementos que moldam o filme”. A luz da infância apresenta o lugar onde a bailarina morava e as figuras do pai e da mãe. Nora interpreta outros personagens, quando se coloca como seu pai apresenta o campo, quando interpreta a mãe mostra a cidade. Observa-se essa mudança através das cenas de ambientes externos para internos e da luz do dia para ambientes escuros. A luz da juventude apresenta a morte do pai e vive seu momento de luto com uma coreografia específica em ambiente com luz do dia. Outro elemento que aparece nesse momento é a paixão, presentes nas cenas intercaladas das flores vermelhas e do figurino dos atores, o casal dança, ela de vermelho, ele de verde. Lembrando que de acordo com Alex Moletta (2009, p. 76) “a escolha das cores influencia a mensagem que se quer transmitir sobre o objeto ou personagem”. A luz do caminho narra o primeiro amor verdadeiro de Nora, Wilson, as imagens mostram a chuva com a elipse do desejo em que os atores comem uma fruta. Nora declara que engravidou, mas não queria casar e nem ter o filho. A cena mostra mulheres sentadas em cadeiras em uma única fila em diagonal e em contraluz. Camadas de luz e sombra indicam um momento de desespero: “Não queria acabar como a minha mãe ou as minhas tias. Decidi seguir o meu próprio caminho”. O caminho aqui apresentado pela imagem, que mostra a luz advinda de uma porta aberta, a artista dança em direção a essa porta e ao sair define o seu caminho. A última cena mostra Nora dançando e a indicação que “Nora deixou o Zimbábue em 1989. Hoje vive em Nova York”. Rogério Oliveira (2016, p. 111) aponta a cinematografia como a construção da atmosfera paralela ao real: “Retirar a câmera da categoria de puro e simples instrumento de captura passiva das imagens de coisas e pessoas à frente da objetiva, dotando-a de mobilidade, implica em considerar um aspecto da autonomia do diretor de fotografia na construção fílmica”. A fotografia cinematográfica se constrói pela maneira como elaborar imagens e para tal é necessário conhecimento técnico, estético e cultural, através do jogo de luz e sombra, com diferentes planos uma vida pode ser contada para indicar a luz como elemento narrativo. |
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Bibliografia | CARLSON, Marvin. Performance: uma introdução crítica. Tradução: Thais F. Nogueira Diniz, Maria Antonieta Pereira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009. |