ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Da Arqueologia das Mídias à Arqueologia dos Filmes |
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Autor | Marcio Telles da Silveira |
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Resumo Expandido | A recente publicação em português de Cinema como arqueologia das mídias, de Thomas Elsaesser (2018), despertou os pesquisadores brasileiros a essa “nova agenda de pesquisa” (GONÇALO, 2020). Trata-se de repensar a história do cinema a partir das descontinuidades e rupturas, onde o foco recai sobre as materialidades fílmicas. A despeito dos esforços de Elsaesser, o foco da arqueologia das mídias permanece sobre as mídias, delimitadas como artefatos tecnológicos presos a dada historicidade que executam funções de armazenamento, processamento e transmissão de dados/informação, condicionando o que e como algo pode ser comunicado em determinada época (KITTLER, 2019). Em vez de fugir da questão tecnológica com receio de soar determinista, a Arqueologia das Mídias enfatiza as rupturas tecnológicas que dinamizam outras diferenças culturais, sociais, estilísticas, afetivas etc. Embora não recusemos esta abordagem “midiacêntrica”, acreditamos que ela deixe de fora outras possibilidades de engajamento com a materialidade dos filmes e do cinema. Nesse sentido, convém retornar à Arqueologia enquanto disciplina, e não apenas como metáfora para uma maneira de produzir pesquisa historiográfica a contrapelo (TELLES, 2020). Mesmo sem ignorar as contribuições de vários midiarqueólogos (Elsaesser, Ernst, Huhtamo, Parikka, Zielinski), o objetivo desta proposta é, então, encontrar pontos de contato com a Arqueologia e vertê-los para possibilidades da pesquisa em audiovisual. Neste diálogo, um intercessor importante é o arqueólogo de formação Andrew Reinhardt, que tem se dedicado à investigação arqueológica de mundos sintéticos nos games (REINHARDT, 2020). A Arqueologia é a disciplina que estuda as relações entre pessoas e objetos em todos os tempos e em todos os lugares (REINHARDT, 2020, p. 26). Essas relações são definidas em termos de regularidades percebidas nos processos de fabricação, uso e descarte que conformam as histórias de vida das coisas materiais. Diferente da análise fílmica, concentrada na narrativa e em análises semióticas, a Arqueologia do Filme seria uma perspectiva pós-hermenêutica (GUMBRECHT, 2010), que tomaria o filme e seu entorno por objetos esquecidos de “configurações” (TURQUETTY, 2019) passadas, tal como se fossem resquícios de civilizações antigas. Os objetos – os filmes – existem apenas no presente e não dizem nada, por si só, sobre o passado. Os textos primários desta investigação não seriam o filme, mas os documentos produzidos ao seu redor: notas de produção, críticas, making of, bilhetes etc. Como diz Thomas Elsaesser (2018, p. 50), na pesquisa midiarqueológica, “o centro é ausente”. Há seis possíveis desenvolvimentos para uma arqueologia do filme como essa perspectiva materialista e pós-hermenêutica: 1) Estudo da cultura material ao redor dos filmes: o filme como um artefato físico, interpretado a partir de seu entorno. O paralelo é com o estudo arqueológico das pessoas que, em outras eras, criaram objetos, os utilizaram e os abandonaram. 2) História da cultura material dentro dos filmes: os objetos cinematográficos (ou até as locações), os figurinos etc. como uma história não-humana do cinema. 3) Arqueologia dos elementos formais de um filme: a relação entre aspectos da tecnologia e opções estéticas. Um ponto de partida poderia ser as análises formais de David Bordwell. 4) História contrafactual do cinema: ao perguntar “e se?”, o arqueólogo pode levantar novas compreensões dos processos históricos. Star Wars é mesmo um fato necessário à cultura do Blockbuster? 5) Aplicação de métodos arqueológicos ao espaço diegético: estudo do patrimônio das culturas e civilizações que existem apenas dentro no mundo diegético. Convém observar que esta é uma pesquisa ainda em andamento. As vertentes propostas ainda precisam ser testas, mas são pistas interessantes para uma perspectiva neomaterialista e pós-humana (LEMOS, 2020) dos filmes. |
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Bibliografia | ELSAESSER, T. Cinema como Arqueologia das Mídias. Trad. Carlos Szlak, São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2018 |