ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Recursos do horror: o gênero sob o olhar da descontinuidade |
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Autor | João Antonio Ribeiro Neto |
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Resumo Expandido | No ano de 2017, o jornalista e crítico do portal The Guardian, Steve Rose, sugeriu em um artigo intitulado “How post-horror movies are taking over cinema”, afirmando que o cinema de horror passava por um período de ruptura com o surgimento de um novo subgênero, chamado por ele de pós-horror. Em seu texto, Rose afirma que alguns cineastas começavam a repensar os filmes do gênero, se livrando das amarras convencionais que foram consagradas ao longo das décadas, para, utilizando ainda de elementos do horror, criar uma experiência diferenciada. O que se se procura aqui é refletir a respeito do gênero de horror, principalmente com base em seus artifícios característicos, mecanismos que promovem o que Carröll (1999) definiu como “horror artístico”. A partir da noção de descontinuidade proposta por Foucault (2008), pensar alguns desses recursos presentes historicamente no cinema de horror, partindo de uma distância segura dos fundamentos da visão histórica convencional. Operar um estudo que parta do artigo de Rose requer uma abordagem que não se limite a uma perspectiva estabelecida e aceita como grande verdade. De certo modo, já houve discussões e estudos que colocam seu texto e argumentos sob a lente da academia, perscrutando pontos de muita importância para validar ou invalidar seu discurso. Logo, é necessário assumir uma ótica que privilegie um estudo que não se contente em se subordinar aos fatos como estão dados, mas que se submeta a um processo que possa, ao mesmo tempo em que se aprofunda tematicamente, também questionar determinadas noções basilares. Foucault então surge aqui com uma proposta de análise que atende a indispensabilidade de olhar para nosso objeto liberado de uma compulsão de continuidade limitante. Posto isto, é preciso então entender o que são as noções de genealogia, arqueologia e descontinuidade das quais faremos uso para pensarmos sobre certos elementos do horror. É notável que não haja um movimento de superação de uma determinada fase por outra dentro da história do cinema, mas uma incorporação de certos subterfúgios, que são dispostos de tempos em tempos, em contextos diferentes e aplicações que vão atender a essa necessidade primária que existe nos filmes. De qualquer forma, o cinema desenvolveu-se com o passar do tempo e acabou por dividir-se em categorias, o que acabamos conhecendo por gênero. A ideia de gênero pode ser descrita como “uma categoria ou tipo de filmes que congrega e descreve obras a partir de marcas de afinidade de diversa ordem, entre as quais as mais determinantes tendem a ser as narrativas ou temáticas.” (NOGUEIRA, 2010) Mas olhando desta maneira, o conceito de gênero parece pouco aprofundado a respeito de suas próprias necessidades de segregação. Além de aglutinar determinados filmes com características semelhantes, é preciso olhar para uma outra discursividade presente que alavancou as separações de tal forma que duram até os dias de hoje. A escolha dos filmes se deu a partir de duas perspectivas: um espaçamento histórico considerável, para que, em diferentes momentos, os artifícios estabelecidos como pertencentes ao horror pudessem ser observados, com suas propostas conversando diretamente com seu público e obedecendo determinadas pré-disposições de seu tempo. Uma variedade de temáticas, sendo que um filme tem como elemento central um vampiro, outro uma mulher que se transforma em pantera e, por último, um que tem como principal afetação a implantação de um cérebro no corpo de outra pessoa. Essas duas condições então nos levaram ao Nosferatu (1922), Murnau, Sangue de Pantera (1942) e Corra! (2017). O fato é que, do ponto de vista da descontinuidade, o que temos aqui é a observação de que a aparente rigidez, apontada por Rose (2017), não parece tão restritiva assim. Os recursos, que surgem de tempos em tempos em diversas obras, são empregados de maneiras diversificadas a fim de provocar uma sensação de horror artístico genuíno, não dependendo de uma renovação da fórmula. |
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Bibliografia | BORDWELL, David. Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas, SP: |