ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | A atenção poética no hiper-realismo de Chantal Akerman |
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Autor | Beatriz Avila Vasconcelos |
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Resumo Expandido | Esta comunicação integra o projeto de pesquisa “Imagem e Poesia em Pensamentos de Cineastas”, em que busco pensamentos de cineastas acerca da imagem, a partir de sua produção verbal e fílmica, percebendo modos de ver, tipos de atenção e de experiência que instauram regimes de imagem de cinemas de poesia. A famosa distinção feita por Viktor Shklovski (1994) entre cinema de prosa - comprometido com o significado - e cinema de poesia - comprometido com os elementos da forma – é útil aqui para indicar que é precisamente no cinema de poesia que a visão da imagem adquire centralidade. Assim, por cinemas de poesia entendo, inicialmente, os cinemas em que a ordem do ver e do contemplar prevaleçam sobre a ordem do narrar, cinemas, portanto, em que a fruição da imagem esteja no centro da experiência estética, despertando um tipo de atenção da ordem do poético. De fato, para ver a imagem poética é preciso dirigir à imagem um certo tipo de atenção. Hans-Ulrich Gumbrecht (2016), entende a poesia como um tipo de atenção, mais precisamente uma observação atentiva dos fenômenos do mundo. Baseado em teses de Lucy Alford (2019), Gumbrecht aborda a poesia muito mais que como um gênero literário, ele a considera uma “abertura da mente para o mundo”, “uma função específica da consciência” (Gumbrecht 2016, p. 85-86), função esta que se realiza na atenção do poeta/espectador para os fenômenos do mundo. Nesta mesma direção vai a compreensão de Tarkovski, como já pude explorar em pesquisa anterior (Vasconcelos 2020): “Quando falo de poesia” diz Tarkovski, “não penso nela como gênero. A poesia é uma consciência do mundo, uma forma específica de relacionamento com a realidade. Assim, a poesia torna-se uma filosofia que conduz o homem ao longo de toda a sua vida.” (Tarkovski 2010, p.18). Tendo estes pontos de partida de poesia como “modo de atenção” (Gumbrecht) e como “forma específica de relacionamento com a realidade” (Tarkovski), entendo que falar de poesia através e com cineastas é falar da própria consciência do mundo que tais cineastas afirmam com o seu cinema, do tipo de atenção que requerem de seus espectadores, e do próprio modo com que buscam se relacionar com a realidade e com a arte, através de suas imagens. Aqui, meu interesse volta-se ao pensamento e à arte de Chantal Akerman, vendo que seu cinema instaura formas de relacionamento com os fenômenos do mundo e exigem uma atenção de qualidade poética à imagem que deles se produz. De fato, a atenção à imagem é um requisito colocado à espectatorialidade de seus filmes e faz parte da dinâmica de seu hiper-realismo. Em certa entrevista, a cineasta diz: “(...) Em meus filmes, ou você olha, ou você abandona!” (Akerman, 1976). Assim, com vontade de olhar para seus filmes, exploro concepções de imagem desta cineasta, valendo-me de declarações verbais suas e de uma análise de planos de seu filme Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975). O objetivo é perceber o modo particular com que Akerman constrói um regime de imagens fundado num modo de atenção específico, numa certa “forma específica de relacionamento com a realidade”, buscando defender que o seu cinema estabelece um tipo de experiência atentiva da ordem do poético. |
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Bibliografia | ALFORD, Lucy. Forms of Poetic Attention. New York: Columbia University Press, 2019. |