ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Pode a subalterna cantar? A empregada doméstica nas chanchadas |
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Autor | Daniel Matos |
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Resumo Expandido | O universo ficcional das chanchadas é povoado por sujeitos subalternizados (SPIVAK, 2010). Essas comédias com números musicais produzidas no Brasil entre as décadas de 20 e 50 (AUGUSTO, 1989), além de serem um inegável fenômeno comercial, elas construíram um imaginário acerca da sociedade brasileira, por meio do seu humor satírico e carnavalesco, ridicularizando também diversas hierarquias sociais (DIAS, 1993). Os homens e mulheres que vivem e habitam as chanchadas são, na maioria das vezes, pessoas do povo, oriundos de classes mais baixas, trabalhadores sem vínculo empregatício, pessoas que não fazem parte de um jogo desenvolvimentista (CATANI; AFONSO, 1983) e, cujas vidas, não importam (SPIVAK, 2010). A empregada doméstica é uma dessas personagens. A classe de trabalhadoras se constitui a partir de uma confluência de três fatores: o gênero (FEDERICI, 2019 e ENGELS, 1984), a raça e a classe social (RONCADOR, 2008). Esta interseção revela um processo histórico, experienciado pela sociedade brasileira, que culmina na constituição da classe de trabalhadoras. Os atores e atrizes das chanchadas muitas vezes compartilhavam com os personagens dos filmes uma origem simples, em diálogo com o próprio gênero cinematográfico, que investia em personagens arquetípicos (o malandro, o sambista, a empregada doméstica). Um desses exemplos é a atriz que mais interpretou trabalhadoras domésticas nas chanchadas, Dercy Gonçalves. Sua filmografia é composta por diversas personagens de classe baixa e em situação de marginalização, semelhantes a vivenciadas por ela antes de trabalhar profissionalmente como atriz. Dercy interpretou empregadas domésticas em: Samba em Berlim (Brasil, 1943) de Luiz de Barros; Cala a boca, Etelvina (Brasil, 1958/1959), de Eurides Ramos; Minervina vem aí (Brasil, 1960) de Eurides Ramos e Hélio Barroso; Só naquela base (Brasil, 1960) de Ronaldo Lupo; Sonhando com milhões (Brasil, 1963), de Eurides Ramos. Em outras obras ela é uma figura marginalizada: uma mulher interiorana e analfabeta em Abacaxi azul (Brasil, 1944) de Ruy Costa e Wallace Downey; favelada em Depois Eu Conto (Brasil, 1956) de José Carlos Burle e Watson Macedo; costureira em Uma certa Lucrécia (Brasil, 1957) de Fernando de Barros; manicure em Baronesa Transviada (Brasil, 1957) de Watson Macedo; a procura de um homem rico para casar e ascender socialmente em Entrei de gaiato (Brasil, 1959) de J.B. Tanko e A viúva Valentina (Brasil, 1960) de Eurides Ramos e uma dona de bordel em Dona Violante Miranda (Brasil, 1960) de Fernando de Barros. Para o presente trabalho, Cala a boca, Etelvina; Minervina vem aí e Sonhando com milhões, filmes nos quais Dercy interpretou empregadas domésticas e com cópias disponíveis serão analisados. Partindo destes filmes e pensando o cinema como um campo de forças e um lugar no qual uma sociedade não apenas reproduz discursos, mas também cria imagens, possibilidades e narrativas, este trabalho pretende, portanto, compreender quais são as imagens que as chanchadas brasileiras produziram das empregadas domésticas. Entendendo a classe de trabalhadoras como um grupo subalternizado (SHOHAT e STAM, 2006) de quais maneiras os filmes escolhidos reiteram ou rompem com os estigmas sociais relacionados à profissão e estereótipos presentes no imaginário coletivo? |
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Bibliografia | AUGUSTO, Sérgio. Este mundo é um pandeiro: a chanchada de Getúlio a JK. São Paulo: Cinemateca Brasileira: Companhia das Letras, 1989. |