ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | O QUE PODEMOS APRENDER COM OS PINTORES? |
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Autor | André Schütz |
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Resumo Expandido | A pintura sempre foi assunto no meio da cinematografia. Seja como fonte para estudo e inspiração (MOURA, 1999:212), como um paralelo na tentativa de “enobrecer” nosso ofício (ALTON, 1995:130), ou simplesmente como uma tradição que nos antecede na história da arte. O diretor Peter Greenaway, pintor por formação, sugere que o cinema não surgiu no final do século XIX, mas sim trezentos anos antes com Caravaggio, Rubens, Rembrandt e Velázquez. A justificativa é que estes seriam os primeiros pintores a investigar de forma séria e consistente o uso da luz artificial e suas possibilidades expressivas. Percebe-se aqui algo recorrente na forma como cineastas, e diretores de fotografia em especial, estudam a pintura. A observação se concentra nas imagens produzidas pelos pintores e não necessariamente nas obras enquanto objeto ou nos processos de sua realização. É notável também uma certa predileção pela produção pictórica seiscentista europeia, o que não seria um mero acaso. Nós, diretores de fotografia, nos dedicamos ao exaustivo estudo das técnicas fotográficas e ao conhecimento de toda a tecnologia envolvida a fim de aplicá-los no suporte à narrativa dentro de uma obra cinematográfica. Com essa mesma finalidade, nos habituamos a buscar nas artes visuais, assim como no próprio cinema, imagens de referência para nos auxiliar no processo criativo e colaborativo com diretores de cena e de arte. Trabalhamos predominantemente no contexto do cinema narrativo e esse é o modelo em torno do qual nossa formação é estruturada. Nossa arte tende a se esconder, assumindo função de mola propulsora para a dramaturgia. A partir da leitura do roteiro, concebemos a fotografia e a executamos. “O trabalho do diretor de fotografia consiste em imaginar, ou melhor, ver as imagens antes de executá-las” (MOURA, 1999:220). Encontramos aqui uma correlação entre palavra, ideia e imagem, fundamental nas poéticas barrocas (ARGAN, 2004:23). Quando no século XVII as pinturas eram traduzidas para o meio da gravura, algo se perdia, a obra “a ser contemplada” se convertia em obra “a ser lida” (2004:23). Da mesma forma, quando o filme concebido para a grande tela na sala de cinema é exibido em um tablet via streaming ou numa pequena tela em uma aeronave, algo da cinematografia se perde, mas a narrativa e a interpretação ainda podem ser “lidas”. Greenaway nos provoca dizendo que ainda não vimos o cinema. Que o que vimos nos últimos 125 anos foi “texto ilustrado”. Quando estudamos reproduções fotográficas das pinturas, mesmo das de Hopper ou dos Impressionistas, lemos as imagens. Fotógrafos são muito bons nisso, em ler imagens. Talvez o que tenhamos a aprender com os pintores que nos antecederam nos últimos três séculos, e principalmente no século XX, seja exatamente a compreender o que se perde nessas traduções. Investigar e explorar o que há de sensorial e material em nossas obras. Mas nossa arte é provavelmente essa que Greenaway diz que ainda não vimos, que se esconde na função de dar suporte à narrativa. É preciso então desnudar a cinematografia do véu do utensílio As pinturas moderna e contemporânea olharam para si. Pintores como Yves Klein, Gerard Richter, Jackson Pollock, Francis Bacon, Carolee Schneemann e Cai Guo-Qiang nos oferecem ao estudo algo além das imagens. Através deles, podemos ser provocados a investigar a materialidade dos meios cinematográficos e a experiência da pesquisa no fazer do set. Da caligrafia do operador de câmera à arquitetura dos espaços que edificamos com a distorção das lentes e a profundidade de campo com a qual o ator dialoga e na qual o personagem habita. |
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Bibliografia | ALTON, John. Painting With Light. Londres. University of California Press, 1995 |