ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Cinema e segregação racial nos Estados Unidos no período silencioso |
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Autor | Fabio Luciano Francener Pinheiro |
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Resumo Expandido | O consumo e a recepção dos filmes são elementos tão importantes quanto as próprias produções cinematográficas. STAM (2000) destaca o enriquecimento das pesquisas em cinema com contribuições oriundas da análise da espectatorialidade, em que se deixa de falar de forma vaga sobre o “público” para se estudar o “(...) espectador real como indivíduo com corpo, raça, gênero e inserção histórica” (Stam, p. 257). Ao criticar as limitações do modelo psicanalítico constituído pelo aparato, DIAWARA (1993) aponta a exclusão do espectador negro, lembrando que públicos de raças, gêneros e orientações sexuais distintas farão leituras diversas do mesmo filme. Assim, representações estereotipadas e exibições segregadas fornecem subsídios importantes para compreender este processo de exclusão. A segregação racial se impôs nas primeiras exibições de filmes nos Estados Unidos. A Edison Company exibia filmes curtos como The Watermelon Contest, de 1896, no qual são vistos dois homens negros comendo melancia com rapidez. Uma versão mais longa, de 1900, mostra quatro homens disputando quem come mais rápido. A Biograph, outra companhia pioneira, realizou filmes como Oh! That Watermelon, Watermelon Feast, Dancing Darkies, and Hard Wash. Neste último, uma mulher negra demonstra sua frustração ao esfregar seu filho e ver que ele não se torna branco. Além do apelo a estereótipos cômicos, como o escravo louco por melancia ou frango – derivados do espetáculo de minstrel do século XIX – as primeiras décadas do cinema americano popularizam práticas como o blackface, em que um personagem negro era interpretado por um ator branco com rosto pintado de preto. Tais representações traduziam no final do século XIX e no início do XX o espírito de segregação conhecido como Jim Crow, que se pautavam por restringir a presença e circulação de afro-americanos em espaços públicos. Tratava-se de um conjunto de práticas judiciais e legislativas impostas nos estados do Sul dos Estados Unidos, como reação à Emancipação dos escravos e à concessão do direito de voto aos libertos. Na prática, tais restrições significavam uma outra escravidão. As leis restringiam a circulação de negros nos transportes públicos, a frequência a escolas e comércios e incentivavam a separação de banheiros, bebedouros, restaurantes, bibliotecas, parques e cinemas. Como consequência, foram criadas exibições exclusivas para plateias negras, às sextas-feiras, depois da meia-noite, ou após o término da última sessão para o público branco. Outra prática incluía o acesso por uma escada externa para o balcão, em uma área reservada ao público negro. Em resposta, comunidades de afro-americanos desenvolveram polos econômicos, políticos, religiosos e de entretenimento, criando suas próprias opções de lazer e seus espaços de convívio, como teatros e cinemas, sobretudo em Nova York e em Chicago. Empreendedores negros criaram os race films, produções concebidas, filmadas e protagonizadas por afro-americanos, distribuídas em circuitos alternativos. Esta comunicação aborda a dinâmica e a memória das sessões segregadas e o impacto das leis Jim Crow sobre a frequência e o consumo de filmes por afro-americanos nas primeiras décadas do século XIX. A base teórica envolve a pesquisa em história oral de VALK e BROWN (2010), em que mulheres negras recordam da frequência ao cinema na Carolina do Sul e a espectatorialidade negra nos cinemas de Chicago (Stewart, 2005), além de outras fontes. |
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Bibliografia | DIAWARA, Mantia. Black American Cinema. Nova York: Routledge, 1993. |