ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Três personagens trágicos da II Guerra Mundial tombam na paisagem |
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Autor | Susana Dobal |
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Resumo Expandido | Se as ramificações da tragédia nos conduzem à reemergência dela em obras contemporâneas, também a possibilidade de fazer dialogarem entre si filmes distanciados por décadas pode trazer à tona questões relacionadas a recriações da tragédia, e ainda à condição humana na sua busca de sentido diante de um mesmo momento da História. Na continuidade e nas diferenças entre os três filmes que constituem os elementos da comparação a ser feita nesse artigo, emergem questões que dizem respeito a algo além da condição trágica dos personagens confrontados com o seu momento histórico, e remetem também a essa condição sob a forma de imagem. Nos filmes a serem colocados em diálogo, configura-se, portanto, embrenhado em narrativas ligadas à II Guerra Mundial, um tema inusitado: a presença da natureza como parte do cenário que irrompe na composição do destino trágico dos personagens. Embora a paisagem funcione de maneira diegética na contextualização da história a ser contada, a forma como ela é apresentada em cada um dos três filmes sugere uma presença com implicações mais profundas do que um simples cenário. Algo mais do que um mero acaso parece guiar a inusitada reincidência de dramas históricos filmados de forma a fazer com que a condição trágica dos personagens seja revelada, mas também a paisagem seja deliberadamente filmada para que ela assuma uma presença dramática reveladora da experiência do personagem. O confronto com o mundo característico da tragédia ecoa na relação dos personagens com a natureza em volta, trazendo à tona o que é próprio do cinema, um mostrar por imagens silenciosas e sorrateiramente tangenciais às ações, mas nem por isso menos pungentes. Os filmes a serem colocados em diálogo são Hiroshima Mon Amour, dirigido Alain Resnais (1959), Ascensão, de Larisa Shepitko (1977) e Uma vida oculta, de Terrence Malick (2019). Nos três filmes o personagem principal se encontra diante de um fato histórico que assume reverberações mais ou menos catastróficas conforme o destino de cada um deles. Como ocorre com o personagem trágico, um forte desejo de emancipação se confronta com uma impossibilidade que, no caso desses três filmes, é imposta por condições históricas relacionadas à ascensão do nazismo. Os três filmes guardam muito em comum, todos eles situam os personagens diante de uma impossível conivência com o Mal, embora dois deles tratem de questões éticas mais relacionadas a esse confronto histórico, e o terceiro, o filme do Alain Renais com roteiro da Marguerite Duras, único centrado em uma personagem feminina, trate também da emancipação amorosa e traga reverberações mais psicológicas. De maneiras diferentes, os três filmes problematizam ainda a questão do relato histórico seja ao tratarem da experiência do nazismo sob os olhos de um personagem, seja ao colocarem a impossibilidade mesma da ação e da representação do trauma. Enquanto ao redor se configura uma hostilidade insuportável, a utopia de libertação conduz cada um dos três personagens a um destino fatal ou traumático. A paisagem participará da composição de cada personagem e de uma tentativa de articulação da experiência também por meio da imagem compondo um drama lacônico e paralelo: o do acolhimento ou o do incomensurável sofrimento do personagem trágico. Como guias nesse percurso que alinhava os três filmes de forma a que um ilumine aspectos do outro, utilizaremos o conceito do trágico (SZONDI, 2004, ARISTÓTELES,1986), as implicações que ligam o cinema à memória e à História (FERRO,1992) e a noção de paisagem no cinema (LEFEBVRE, 2006; HARPER e RAYNER, 2010). |
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Bibliografia | ARISTÓTELES. Poética. Trad. Eudoro de Souza. Lisboa, Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1986. |