ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | As hipertextualidades políticas de Glauber Rocha e Jean-Luc Godard |
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Autor | Hudson Moura |
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Resumo Expandido | Glauber Rocha e Jean-Luc Godard compartilham várias afinidades. Pertencem à mesma geração e estrearam no cinema no final dos anos 1950, primeiro como críticos de cinema e depois como cineastas. Cada um por sua vez iria revolucionar o cinema com propostas estéticas e políticas inovadoras e inesperadas, criando dois dos movimentos mais célebres do cinema moderno, Cinema Novo no Brasil e a Nouvelle Vague na França. Glauber e Godard trabalharam juntos por vários anos. Eles compartilharam as mesmas preocupações políticas e filosóficas sobre o trabalho do diretor e o papel do cinema na sociedade. Eles também são considerados os diretores mais influentes em seu país para as novas gerações. Meu objetivo nesta apresentação é comparar suas abordagens histórico-políticas e examinar como se tornaram dois dos maiores montadores e intelectuais do cinema moderno. Godard e Glauber fazem parte de uma geração de raros artistas engajados tanta na prática político-coletiva quanto no pensamento intelectual. Veremos que por meio da montagem de filmes esses diretores desconstroem a grande narrativa histórica. Distanciam-se das imagens, deslocam-nas, e tornam-nas alheias à sua sequência lógica, revelando e realçando as suas qualidades expressivas no discurso cinematográfico e significativas para a história. Assim, os diretores reinvestem de outra forma o poder das imagens contestando sua dinâmica e mostrando que a montagem não é uma simples desordem ou uma desconstrução do sentido do discurso, pois esta acontece no interior do filme. Ambos fizeram filmes que envolvem intelectualmente através do entrelaçamento de referências contemporâneas e citações de outros cinemas, bem como da literatura, história e filosofia; essas referências são formatadas como hipertextos complexos. Assim, a cada exibição de seus filmes, descobrimos novos entendimentos, novas redes e novas interpretações devido à riqueza de sons e imagens montadas. Todas essas referências servem para ampliar o sentido de seus filmes, como revelam Histoire(s) du cinéma de Jean-Luc Godard e História do Brasil de Glauber Rocha. São seus experimentos na forma e na política do fazer cinematográfico e, principalmente, no mesmo ideal marxista que reunirá os dois cineastas em um mesmo filme. Eles fizeram parte do grupo Dziga Vertov e juntos realizaram Le Vent D'Est em 1969. O filme atacou a construção romanesca burguesa do mundo e o que ela veicula como ilusões em termos de imagem e som. Em Alemanha Nove Zero, Godard filma a Alemanha pós-Muro de Berlim para avaliar a história ocidental através do cinema e da cultura europeia. Sua colagem reciclada mostra uma preocupação típica do cinema godardiano sobre o significado expressivo das imagens. Ele questiona como entendemos a história e como os símbolos são usados para representar a realção Oriente-Ocidente. O que se espera desse novo começo para a história ocidental? A banalização das representações históricas na sociedade contemporânea retirou a força das imagens e restringiu os discursos à estereótipos sobre identidade. Em Di, Glauber realiza um ensaio-documentário ao invadir, com sua equipe de filmagem e um grupo carnavalesco, o funeral de um dos mais famosos pintores brasileiros. Ele mostra o rosto do pintor em seu caixão, apesar das objeções da família. Desse modo, Glauber afirmava criar uma alegoria da cultura brasileira profanando o corpo do pintor e desmistificando suas pinturas ao mesmo tempo em que celebrava a identidade nacional numa abordagem visceral da história brasileira. Meu objetivo nesta apresentação é expor as abordagens compartilhadas, embora distintas, de Godard e Rocha em representar a história, por mais próxima ou remota que pareçam. Pretendo mostrar como esses cineastas intelectuais se tornaram dois dos maiores intelectuais e mais talentosos criadores do cinema moderno. |
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Bibliografia | Agamben, Giorgio. Image et Mémoire. Écrits sur l’image, la danse et le cinéma. Paris, Desclée de Brouwer, 2004. |