ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Promessas, promessas: “Paramount e a filmagem brasileira” em Cinearte |
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Autor | Pedro Butcher |
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Resumo Expandido | Na sua edição de 23 de março de 1927, a revista Cinearte publicou uma série de reportagens dedicadas à Paramount. Dentre elas, um texto de Pedro Lima em que o autor comentava o suposto desejo expresso pela companhia de “colaborar na filmagem brasileira de um modo direto e incisivo”. Lima cobrava uma promessa feita quase dois anos antes pelo diretor da Paramount no Brasil, John L. Day, que, em entrevista à própria Cinearte, em junho de 1925, teria dito que o Rio de Janeiro reunia qualidades para ser “o centro único” para a instalação de um estúdio cinematográfico no país. Na sequência, afirmava que deslocaria “as principais figuras do nosso elenco (...) para confeccionar uma película inaugural, com motivos e assuntos puramente dos nossos irmãos do Sul”, e concluía afirmando que a Paramount desejava “ser a primeira fábrica norte-americana a inaugurar um estúdio na América do Sul” . Em seu texto, Pedro Lima ressalta a recorrência de promessas da Paramount de apoio “não só financeiro e artístico, mas, também, contando com as casas que exibem seus filmes”, para “popularizar a nossa Indústria Cinematográfica” . Citava como um possível estímulo a esse apoio o sucesso de “O Guarany”, projeto finalizado com recursos de adiantamento de direitos de distribuição pela Paramount, e que, segundo Lima, fora um sucesso de bilheteria. O objetivo dessa comunicação é dar partida a um dos possíveis desdobramentos de minha pesquisa de doutorado, sobre a instalação dos escritórios das companhias de cinema americanas no Brasil, analisando a edição de 23 de março de 1927 de Cinearte à luz de um entendimento histórico da presença das distribuidoras americanas no Brasil. Nesse primeiro momento, essa etapa da pesquisa se concentrará em um levantamento e estudo das páginas de Cinearte dedicadas às companhias que, mais tarde, seriam denominadas como as “majors” americanas, com foco nas reportagens especiais e na coluna “Cinemas e Cinematographistas”, dedicada especificamente à cobertura do mercado. Com a fixação e consolidação da presença da cinematografia hollywoodiana nas salas de cinema do país, as revistas passaram a depender cada vez mais do material publicitário fornecido pelas distribuidoras. Cinearte, em especial, pode ser vista como um palco privilegiado das contradições de um mercado ocupado, ao se propor a ser, ao mesmo tempo, plataforma de divulgação dos filmes americanos e defensora do estabelecimento de uma indústria nacional, sobretudo pela voz de Pedro Lima. Como afirma Ismail Xavier (2017, p. 180), “Cinearte é a manifestação integral e contraditória da indústria triunfante e da colonização cultural”, estando “em sintonia com as forças dominantes do presente” ao mesmo tempo em quee “dá lugar para a expressão de forças estranhas ao seu eixo central, embora essa expressão se dê na forma de uma proposta de transplante, conformadora da legitimidade universal do mundo cinematográfico que Cinearte promove”. O número que é objeto dessa comunicação é exemplar nesse sentido. Quase todo dedicado à Paramount, traz um longo perfil de Adolf Zukor, presidente da empresa nos Estados Unidos; uma entrevista com Emil E. Shauer, diretor do departamento estrangeiro na sede em Nova York; uma reportagem sobre o majestoso cinema da Paramount também em Nova York e uma reportagem sobre o escritório da distribuidora no Rio de Janeiro. Por fim, apresenta ainda a cartela de filmes para o ano de 1927, anunciada no “Álbum Paramount”. Esse conjunto, somado ao texto de Pedro Lima, que evoca a relação com a produção brasileira e alude às constantes promessas, não cumpridas, de um apoio efetivo à cinematografia nacional, pode ser um ponto de partida para o aprofundamento de uma perspectiva histórica sobre a relação das majors hollywoodianas e a produção brasileira. |
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Bibliografia | AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial brasileiro. São Paulo: Hucitec Editora, 2013. |