ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | O espectador de cinema e o Jornal Nacional |
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Autor | Consuelo Lins |
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Coautor | Caio Bortolotti Batista |
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Resumo Expandido | Nossa proposta pode ser vista como um experimento: analisar uma série pequena de edições do Jornal Nacional do ponto de vista de um espectador de cinema, um espectador-crítico que se utiliza do cinema como ferramenta para desmontar, e entender melhor, a lógica espetacular do telejornal mais importante da televisão brasileira. Trata-se de uma empreitada inspirada no gesto de Eduardo Coutinho em Um dia na vida (2010), que “obrigou” o espectador dos seus documentários a ver televisão em uma sala de cinema: o “troço”, como Coutinho costumava chamar seu “filme de televisão”, foi editado a partir de 19 horas de material audiovisual da TV aberta brasileira, capturadas ao longo de um dia, de forma aleatória, zapeando entre diferentes canais. Com esse gesto, Coutinho quis nos incentivar a ver e pensar o que a maior parte da população brasileira continua assistindo, apesar de todos os meios alternativos possibilitados pela internet. Segundo o cineasta, a pesquisa do audiovisual no país teria muito a ganhar se os pesquisadores de cinema se dedicassem mais a essa produção. Tentemos, pois, apostar nos instrumentos críticos que o cinema inventou para nos situar em meio às imagens contemporâneas - “instrumentos forçosamente inadequados”, como bem lembra o crítico Serge Daney, “mas é o que nós temos”. Trata-se, portanto, de analisar um material telejornalístico a partir de um olhar de espectador de cinema que pensa ser colocado em jogo por aquilo que vê e que seu lugar de espectador não é imutável. “Quando eu vejo televisão, eu vejo sempre como se fosse um filme, com um olho perverso. O que significa que eu propositadamente peço muito a um meio que não me pede nada, nem a mim nem a ninguém.” (DANEY,1991:219) Sabemos que entramos em um campo minado que não é o nosso: há farta produção acadêmica sobre telejornalismo e particularmente sobre os dias que pretendemos tomar como objeto, aqueles que colocaram em cena os grampos das conversas entre o ex-presidente Lula e a então presidenta Dilma Rousseff. E enfrentamos um aspecto para o qual não estamos propriamente preparados: o excesso de imagens, sons e informações que caracterizam o que chamamos de “arquivos do presente”, materiais provenientes da televisão e da produção contemporânea amadora, doméstica, familiar, que não para de crescer. Só as edições que fazem parte dessa série constituída por nós formam uma quantidade de arquivos que, na formulação de Jean-Louis Comolli em outro contexto, “submerge toda racionalidade”: “Há um excedente, um transbordamento, um excesso que ultrapassa toda medida humana. Somente os robôs, talvez, irão vigiar esses incontáveis estoques.” (COMOLLI, 2017:10). Para limitar minimamente nosso corpus, escolhemos oito dias do mês de março, entre sábado 12 e sábado 19 de março de 2016. O objeto central da análise será a edição do dia 16 de março e é a partir dela que falaremos das edições restantes. São dias decisivos no curso dos acontecimentos que levaram ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Neles, a acusação de que o ex-presidente Lula é proprietário do triplex de Guarujá é a que mais se destaca. O experimento aqui em questão – que, como todo experimento, corre o risco de chegar a um resultado pífio - é fruto de uma ideia que data de 2016, mas por motivos variados, não pode ser levada adiante. As recentes decisões do Supremo Tribunal Federal de considerar o ex-juiz Sergio Moro incompetente e parcial nas ações contra o ex-presidente Lula nos levaram a crer que seria interessante retomar, nesse momento, essa análise. |
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Bibliografia | CARVALHO, Carlos A.; BRUCK, Mohazir S. Vazamentos como acontecimento jornalístico: notas sobre performatividade mediática de atores sociais. Revista Famecos, Porto Alegre, v. 25, n. 3, p. 1-20, setembro, outubro, novembro e dezembro de 2018: ID29713. |