ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | O repertório musical pós-golpe em "Bethânia bem de perto: A Propósito |
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Autor | Rafael Saar da Costa |
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Resumo Expandido | Nos anos cinquenta, a parceria de Nelson Pereira dos Santos e Zé Keti em 'Rio, 40 graus' e 'Rio, Zona Norte', revela novas relações entre o cinema e a música brasileira, indicando um diálogo que é atravessado por questões políticas e estéticas. Na década seguinte, dilemas sociais, especialmente o contexto pós-golpe de 1964, impulsionam a efervescência cultural que consolida além dos novos cinemas brasileiros, teatro, artes plásticas, literatura e música novos. Neste último campo, a bossa nova, a MPB e as canções de protesto, a Tropicália, a música erudita com o movimento Música Nova em um universo cultural que constrói um cruzamento frequente entre todas estas expressões. Ligados ao Centro Popular de Cultura - CPC, organização associada à União Nacional de Estudantes - UNE, o Cinema Novo e o Teatro Opinião, dois núcleos fundamentais neste ambiente, se encontram em 'O Desafio' (1965), de Paulo César Sarraceni, e segundo Guerrini, é o primeiro filme que faz amplo uso da nascente MPB. Em registro documental, vemos em cena o carioca do morro Zé Keti, o maranhense João do Vale e a iniciante baiana Maria Bethânia, em seu primeiro registro audiovisual. Bethânia quem substituiu Nara Leão em 1965, artista até então integrante da bossa nova da zona sul carioca que compunha a formação original do show. O número da canção 'Carcará', de João do Vale, também presente em 'O Desafio', despontou Maria Bethânia nesta que foi sua primeira apresentação no Rio de Janeiro. Ainda no texto na peça, sua personagem reafirma esta ligação: "O cinema novo ajudou muito a música popular brasileira. Pra que ela falasse novos temas, para que ficasse mais ampla, voltada para grandes platéias, para sentimentos coletivos. 'Rio 40 graus' deu 'Voz do Morro', 'Rio Zona Norte' deu 'Malvadeza Durão'". Bethânia ressurge em 1966 com o Recital na Boate Cangaceiro, no Rio de Janeiro, que é registrado por Júlio Bressane e Eduardo Escorel, dando origem a 'Bethânia bem de perto - A propósito de um show'. O filme coloca a música e a intérprete como temas centrais de uma narrativa em primeira pessoa, nesta que foi uma das iniciativas pioneiras do cinema direto no Brasil. A música constitui a quase totalidade da banda sonora e este repertório será objeto deste estudo. Com dezoito canções presentes no documentário, Bressane e Escorel fazem uma trilha sonora predominantemente baseada no som direto, sem sobreposições de áudio editadas, sendo fiéis à estética do cinema direto e seu privilégio ao som síncrono das cenas, com exceção às imagens externas. O filme não se rende ao modelo canônico do narrador, nem mesmo com voz da artista, e não há entrevistas, a proposta é não interferir nos acontecimentos. 'Bethânia bem de perto' é atravessado não só pelo repertório musical da protagonista Maria Bethânia, mas daquela geração, com todos seus questionamentos. O resgate de uma tradição da música popular brasileira diante de um cenário de invasão da música estrangeira, e daí uma busca pelas origens em Noel Rosa e Heitor dos Prazeres, Luiz Gonzaga ou a cantiga 'Minha machadinha'. A música do morro de Zé Kéti, no cinema de Nelson Pereira dos Santos e em Opinião, ganhava projeção e junto, novos sambistas ligados a este universo como Paulinho da Viola e Elton Medeiros. A bossa nova influenciada pelo música americana e sua projeção internacional no início dos anos 60 trazem novos rumos no movimento que em parte busca diálogos com sonoridades afro brasileiras e uma aproximação a uma estética mais popular, surgindo uma canção revigorada do encontro de Vinicius e Baden Powell em duas canções nesta trilha. Finalmente compositores modernos e coetâneos à protagonista, também atentos a todos estes movimentos, Edu Lobo, Torquato Neto, Capinam, Gilberto Gil e especialmente seu irmão Caetano Veloso, anunciando as misturas referenciais que forjaram novas rupturas estéticas que viriam a seguir como a Tropicália e o que veio a ser chamado de MPB. |
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Bibliografia | COSTA, Armando; FILHO, Oduvaldo V.; PONTES, Paulo. Opinião. Rio de Janeiro: Edições do Val, 1965. |