ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | O Galo cantou em Recife: uma história do Cinema Pathé (1909-1919) |
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Autor | Felipe Davson Pereira da Silva |
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Resumo Expandido | A cidade do Recife passou por diversas modificações no começo do século XX. O final da primeira década é marcado por reformas no bairro do Recife, planos de saneamento, ampliação no porto, entre outras mudanças, as quais permitiram que esta capital observasse um processo, ainda que incipiente, de alterações em sua estrutura (LEVINE, 1980). A “requalificação” desses espaços permitiu a inserção de novos hábitos e costumes (MOREIRA, 1994). Os jornais noticiavam o surgimento do “Recife Novo”, uma cidade que se modernizava e buscava deixar os antigos costumes para “civilizar-se”. Para isso, seria preciso consumir o que essas transformações poderiam proporcionar, como relata uma crônica ao dizer: “os café denotam uma frequencia animadora; o único cinematographo que temos não comporta ás vezes o numero de espectadores que excede á lotação da casa; os automóveis estão dando o que fazer á policia” (A Província, 1909, p. 7). Assim, como outras regiões do país, Recife buscava se adequar aos ventos da modernidade e aos “benefícios” trazidos por ele (REZENDE,1997), e o consumo cinematográfico fazia parte desse "modo de vida almejado". Logo, a interação da cidade com esses espaços modernos de lazer se adequava a um novo modelo de sociabilidade (ARRAIS, 1998). As primeiras salas, denominadas Cinemas ou Cineteatros, surgiram a partir de 1909, em espaços geralmente arrendados. Elas localizavam-se em regiões frequentadas majoritariamente pelas classes sociais mais abastadas. Apesar disso, em pouco tempo a cidade já possuía uma rede de salas em bairros mais distantes do centro, com ingressos relativamente mais baratos e instalações mais singelas (SARAIVA, 2013). Ampliava-se a rede de espectadores, impulsionando a necessidade de novas exibições. O Cinema Pathé é considerada a primeira sala específica para exibições cinematográficas no Recife (FIGUEIRÔA, 2006; FILHO, 2010). Localizada na Rua Barão da Victória, uma via com diversas lojas para um consumo direcionado aos setores médios, desde perfumarias, chapelarias a cafés e bares sofisticados, que servia como espaço para compra e passeios, com bondes cruzando-a (ARRAIS, 1998). Logo, um lugar estratégico para a abertura de uma sala de cinema. A partir de 1909, O Cinema Pathé foi palco de diversas ações de cunho social, desde espetáculos beneficentes a sessões voltadas para alguns setores da sociedade recifense, como imprensa e políticos. Ocorriam programações para mulheres e para crianças, com premiações e algumas filmagens esporádicas, além de distribuir um pequeno folheto contendo a programação diária. Porém, ao que tudo indica, acabou por se fundir com a sala do Victória e do Royal em meados de 1919, ficando com o nome de Cinema Royal. Nossa pesquisa analisará alguns vestígios do processo de estruturação e de mudanças sociais a partir de documentos sobre o Cinema Pathé. Ademais, buscaremos encontrar pistas sobre: a formação de um circuito exibidor recifense e as relações que essas casas possuíam; quais sociabilidades eram produzidas para com o público, e qual a relação desse circuito com a imprensa local. A metodologia ficará a cargo do paradigma indiciário proposto por Carlo Ginzburg (2007). O foco do estudo incidirá na análise de fontes veiculadas nos jornais de maior circulação à época (A Província, Diário de Pernambuco, Jornal do Recife, Jornal Pequeno). Além disso, utilizaremos revistas e documentos oficiais e uma bibliografia sobre Recife e sobre o cinema no período silencioso, a qual contribuirá para compreender elementos constitutivos de um vínculo entre uma cidade em transformação e um “invento moderno" no começo do século XX. |
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Bibliografia | ARRAIS, Raimundo. Recife, culturas e confrontos: as camadas urbanas na campanha salvacionista de 1911. Natal: EDUFRN, 1998. |