ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | MONTAGENS GESTÁLTICAS E ESPECTADORES-INTERLOCUTORES |
|
Autor | Denize Correa Araujo |
|
Coautor | Luciano Marafon |
|
Resumo Expandido | O objetivo deste texto é analisar montagens gestálticas que incluem espectadores-interlocutores. O corpus da análise é formado por dois filmes, ambos com seis indicações ao Oscar 2021, incluindo o de melhor montagem: O Som do Silêncio (The Sound of Metal, Darius Marder, 2019) e Meu Pai (The Father, Florian Zeller, 2020). O Som do Silêncio foi premiado por Melhor Som e Melhor Edição. Meu Pai recebeu os prêmios de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator. O filósofo, psicólogo e teórico Hugo Münsterberg, em sua pesquisa sobre montagem cinematográfica, antecipou as teorias da recepção, enfatizando o papel do espectador ao argumentar que o filme se forma na mente desse sujeito, que pode interpretá-lo de acordo com sua percepção mental (Münsterberg apud Andrew, 2002, p.28). A emblemática imagem da Gestalt, Figura e Fundo (duas faces e/ou uma taça), é parte do caminho que selecionamos para a leitura do corpus. O espectador pode fixar sua mente no “fundo” ou na “figura” ou pode tentar as duas imagens ao mesmo tempo, o que significa que pode se ater ao cenário, aos personagens ou ao protagonista, ignorando a função da montagem. Nos dois filmes aqui analisados, porém, consideramos dinâmicas diferentes para a imersão do espectador no mundo de dentro do protagonista e no mundo que o cerca. Ambos os protagonistas, no caso em questão, exigem espectadores-interlocutores que possam interagir com suas mentes e tentar entender os dilemas que os assombram. Em relação à imagem gestáltica, James Dudley Andrew cita o exemplo da lua e das nuvens, dizendo que podemos, em determinadas noites, ver nuvens passando através da lua, mas podemos também dizer que é a lua que está deslizando através das nuvens (Dudley, 2002, p. 29). No filme Meu Pai, podemos considerar os personagens e os cenários como “fundo” e o protagonista como “figura”. No início do filme, o espectador pode não diferenciar “fundo” e “figura”, mas logo se torna interlocutor, tentando entender o protagonista. Assim teremos o espectador-interlocutor, que dialoga com a mente do protagonista e consegue vislumbrar suas dificuldades e suas interpretações dos lugares e dos personagens que povoam sua mente, frutos de sua memória confusa, e presentes no filme através de mudanças de cenário, não só para confundir quem assiste, mas também para que os espectadores-interlocutores possam compartilhar as manifestações de confusões mentais, habilmente colocadas no layout arquitetônico, como índice do estado mental do protagonista. Já no filme O Som do Silêncio, o espectador se torna interlocutor através da paisagem sonora (Schafer, 2012, p.384) ao acompanhar o protagonista perdendo sua audição, por vezes ouvindo exatamente o que o protagonista ouve e por outras ouvindo o ambiente em volta dele. O diretor, Darius Marder, comentou que o filme pode ser dividido em três partes (segundo o título em inglês): 1 - Sound, onde existe muito ruído, com o som de bateria; 2 - Of, também uma brincadeira com “off”, quando o protagonista começa a perder a audição; 3 - Metal, onde os sons são metálicos devido ao aparelho auditivo que, retirado, leva ao silêncio total no final do filme. O espectador-interlocutor é posto diante do princípio da teoria gestaltista, considerando que a montagem é pautada a partir do som e não o contrário. Na cena em que o protagonista está em um jantar utilizando os aparelhos auditivos, os sons nos transportam a um ambiente confuso, inquietante e irritante, pois neste momento estamos no ponto de audição do protagonista. Assim, através dos efeitos e modificações sonoras, somos imersos em seu mundo. Münsterberg é considerado um dos primeiros grandes autores da teoria do cinema. Seu argumento, em Photoplay: a psychological study (2016), de que “não são os meios físicos e os dispositivos técnicos que estão em questão, mas os meios mentais”, permite apropriações que podem elucidar as montagens gestálticas dos dois filmes em questão e a subseqüente denominação de “espectadores-interlocutores. |
|
Bibliografia | ANDREW, James Dudley. As principais teorias do cinema: uma introdução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. |