ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | REBELDIA E EXPERIMENTAÇÃO: ANA ROMPENDO FRONTEIRAS LATINOAMERICANAS |
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Autor | Antonio Carlos Tunico Amancio da Silva |
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Resumo Expandido | Tendo como base motivadora a peça de teatro documentário “Há mais futuro que passado”, idealizada e executada por Clarisse Zarvos e Daniele Avila Small, Lucia Murat construiu o seu longa-metragem ANA. Sem título, lançado em 2020. O filme se apresenta como um exemplar da categoria documentário híbrido, denominação insuficiente a meu ver, para dar conta da multiplicidade de discursos que concorrem para sua articulação dramática e estética. Um exercício que explora os limites da narrativa realista típica do formato, para abranger situações ficcionais dramatizadas ou metalinguísticas, tudo amparado pela exposição de fotos, filmes e instalações e sustentado pela leitura de cartas de mulheres latino-americanas que têm ou tiveram alguma interface com Ana. A premissa é clara: uma pequena equipe sai atrás de informações sobre Ana, baseada nas cartas trocadas entre a personagem e outras mulheres artistas de Cuba, México, Chile e Argentina, por onde ela passou. O grupo é composto pela atriz Stela ( Stella Rabello), pela cineasta Lucia (Murat), pela operadora de som Andressa (Clain) e pelo fotógrafo Leo ( Bittencourt) e é através de seus olhos – ou por sua narração, leituras, pesquisas, descobertas, depoimentos – que se organiza o discurso sobre esta busca, onde os integrantes do grupo também se expõem de acordo com algumas situações. Este é o primeiro nível de leitura do filme, seu caráter de registro de uma operação de cinema. É esse registro que articula, inclusive, o desfecho com a virada final reveladora. Em seguida temos as cartas, que contextualizam o envolvimento de Ana com essas mulheres e seus respectivos fazeres da produção artística. Cartas que são acompanhadas de imagens, fotos, documentos, filmes, mostrando essas obras e a intervenção de Ana na vida daquelas criadoras. Uma pesquisa que envolve também a visita a ateliers e exposições, bibliotecas e cinematecas buscando compor a imagem de Ana, desaparecida, através do contato com amigas e conhecidos. O terceiro ponto é a contextualização da questão política, e dentro dela a movida feminista, negra e democrática dentro da sociedade dos países visitados pelo filme. Sem nunca perder a dimensão histórica e a perspectiva estética, entrelaçando traços ficcionais, documentários e confessionais, o filme traça um panorama da militância artística de mulheres em uma situação de confronto com uma sociedade que lhes determina um papel subalterno. Uma perspectiva encarada a partir da visita à exposição denominada “Mulheres Radicais: arte latino-americana”, apresentada na Pinacoteca de São Paulo em 2018, onde se iniciam os dispositivos documentais ficcionados que modulam a produção, com diferentes estratégias, já que a ambiguidade incorporada ao texto fílmico tem como premissa a frase de Virginia Woolf - “É provável que a ficção contenha mais verdade que os fatos.” |
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Bibliografia | FOSTER, Hal: O que vem depois da farsa? SP, Ubu Editora, 2021 |