ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | O circuito de Darwin pelos cineteatros do Rio de Janeiro (1914-1932) |
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Autor | Sancler Ebert |
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Resumo Expandido | Nesta comunicação buscamos investigar o circuito realizado por Darwin, o imitador do belo sexo, pelos cineteatros cariocas entre os anos de 1914 e 1932. Darwin se apresentava nos palcos com outras atrações curiosas, como acrobatas, bailarinas, homens boneco e ilusionistas, em sessões acompanhadas de filmes. O artista era reconhecido por sua perfeita imitação dos trejeitos femininos e por personificar diferentes tipos de mulheres, em espetáculos que combinavam ainda a interpretações de canções de diferentes nacionalidades e a apresentação de figurinos de luxos (EBERT, 2018). Sua notoriedade na cena cultural do Rio de Janeiro aparece em diversas notas publicadas na imprensa e é reforçada pela sua participação no filme Augusto Annibal quer casar (1923), de Luiz de Barros (ARAÚJO, 2015) e por sua imagem ser utilizada em partituras presentes na revista Selecta. Para a investigação, criamos uma base de dados do circuito e programação do artista, a partir de uma coleta de informações no periódico Correio da Manhã. Foram encontradas 187 datas com registros da apresentação de Darwin nos cineteatros cariocas entre 1914 e 1932. Foram catalogadas as datas, nome dos estabelecimentos e outras informações sobre as sessões, como filmes e atrações de palco. Posteriormente, utilizando a obra Palácios e Poeiras (GONZAGA, 1996) como referência, incluímos informações como os endereços e os proprietários dos cineteatros. Dessa forma, podemos reconstituir o circuito realizado pelo artista nos anos em que se apresentou na então Capital Federal, buscando compreender como se dava sua circulação entre as diferentes regiões, como o Centro, Zona Sul e Zona Norte. Numa primeira observação, podemos perceber que Darwin passou seus primeiros anos, na década de 1910, apenas na região Central do Rio de Janeiro. Quando retorna a então Capital Federal em 1922, passa o ano numa triangulação entre Copacabana, Centro e Tijuca. Só em 1923 que seu circuito se expande para outros bairros da Zona Norte, como Vila Isabel, Engenho de Dentro e Olaria. Fora esses bairros, o transformista se apresenta na Tijuca e Centro, passando o ano afastado da Zona Sul, para onde só retorna no final de 1924. Falando em 1924, neste ano Darwin insere mais um bairro da Zona Norte em seu circuito, Riachuelo e embora se apresente também no Centro e Zona Sul, o artista passa a maior parte do ano na Zona Norte, revezando-se entre Tijuca, Vila Isabel e Riachuelo. Fechando o ciclo, em 1932, os espetáculos do imitador ficam limitados ao Centro, como nos seus primeiros anos. Na análise, ainda levamos em conta o número de dias que o artista se apresentava em cada cineteatro, buscando perceber em quais regiões ele fazia maior sucesso; a lotação de cada estabelecimento, como forma de medir seu público; e as informações sobre os proprietários dos estabelecimentos, para compreender se os cineteatros eram de um mesmo grupo ou se o artista interagia com uma gama maior de empresários do entretenimento. Essa pesquisa se vincula as perspectivas do New Cinema History e das histórias de cinemas, movimentos que têm repensado a historiografia, desviando o foco dos filmes e seus autores, para refletir sobre questões da recepção, da espacialidade, da distribuição e da exibição. Como afirma Allen (2006), “Uma consequência do foco dos estudos de cinema no texto e na interpretação textual tem sido a supressão ou marginalização da espacialidade da experiência do cinema. No entanto, (...) a implantação de novas tecnologias para reimaginar e representar essas histórias sugerem a necessidade de reconstituir o objeto de estudos cinematográficos em termos relacionais, sociais e fundamentalmente espaciais” (p. 15) (tradução nossa). Dessa forma, ao investigar o circuito realizado por Darwin pelos cineteatros, essa comunicação busca não apenas refletir sobre as relações entre palco e tela nesses estabelecimentos, como também compreender a relação entre os cinemas e suas localizações, no Rio de Janeiro do início do século XX. |
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Bibliografia | ALLEN, R.C. The place of space in film historiography. Tijdschrift voor Mediageschiedenis, 9 (2), 2006, p. 15–27. |