ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Criação de dispositivos em filmes para e com bebês |
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Autor | Mauro Antonio Guari |
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Resumo Expandido | Criação de dispositivos em filmes com e para bebês Em nossa escola fazemos cinema. Cinema para e com bebês. Temos vontade e disciplina para isso. Nossos artistas é que não têm nenhuma. E nem é para ter. Estamos falando de crianças na primeira infância. Isso nos leva inventar, criar dispositivos, que entendemos como: “a introdução de linhas ativadoras em um universo escolhido. Ele pressupõe duas linhas complementares: uma de extremo controle, regras, limites, recortes: e outra de absoluta abertura” (MIGLIORIN, 2015, p. 79). Alguns dispositivos foram experimentados ao longo das oficinas de cinema e outros foram e seguem sendo inventados a partir de nossas experiências de ver-conversar-fazer na escola. Eles visam, sobretudo, provocar impossibilidades de filmagem como habitualmente as fazemos, lançando-nos em um “não saber” onde a falta é exatamente aquilo que nos força a criar imagens (e sons) através de “tentativas” (DELIGNY, 2015). Nas tentativas de inventar filmes experimentamos uma dupla “condição autista”, de agir em meio à falta de linguagem. Fazemos cinema em uma escola de educação infantil, com bebês que quando chegam, a grande maioria, sequer sabe andar, sua condição é a da falta de linguagem falada. Nossa condição de cineastas também é próxima à ‘condição autista’, de falta de linguagem audiovisual, pois temos que inventar nossos dispositivos e agir em meio às tentativas de filmagens. Por isso dizemos que nosso cinema é um “cinema de inventar”. É o cinema que fazemos, com criatividade, improvisos, estudos, e muito amor pelas crianças. Quando chegamos fomos trabalhar em um berçário. No início de qualquer ano é difícil pensar em fazer filmes com eles, ainda estão em processo de adaptação, conhecendo a escola, outros bebês. É fácil filmá-los. Mas há diferenças entre filmar e fazer filmes. Nossa ideia é que os bebês sejam protagonistas de seus filmes. Nesse sentido o filme, Sohlepse (2018), foi montado com imagens dos bebês descobrindo a tela da câmera. Descobrimos que se déssemos o celular para as crianças em modo selfie elas interagiam com o equipamento, possibilitando que fizessem as filmagens. Esse foi o primeiro dispositivo. Outro foi deixar a câmera ligada e parada e perceber suas reações ou colocar a câmera presa a algum instrumento, brinquedo parado ou móvel. Boa parte dos filmes se fez com imagens e sons captados de varias maneiras, que estão em nosso arquivo do cineclube e do Projeto Lugar-escola e cinema [Fapesp 2018/09258-4]. Cortes nos deixam bastante aflitos, pois consideramos todas as imagens dignas de se transformarem em filmes, como diz o diretor de cinema Cao Guimarães (2013): “Tudo é filmável, é cinematográfico. Depende de como você vê as coisas”. Para este cineasta nada é banal. Tudo que vemos, filmamos pode virar filme. Tudo que foi filmado e deixado de lado pode, no futuro, virar filme. Fazemos também essa reinvenção das imagens, transformando arquivos em novos filmes. Fizemos isso em 2019 e agora durante a pandemia. Nas montagens, exploramos luz, sombras, potencialidades sonoras das crianças, bem como o silêncio. Em um dos filmes realizados na pandemia, Esopinhos (2020), demos vozes aos animais filmados na escola, criando uma pequena fábula como as de Esopo. Todas essas possibilidades de dispositivos de criação de imagens e de montagens resultam em diferentes tipos de filmes, fazendo com que nosso cinema seja sempre um cinema de inventar. |
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