ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Em busca do pai: duas construções visuais por Walter Carvalho |
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Autor | Maria Fernanda Riscali de Lima Moraes |
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Resumo Expandido | Em Central do Brasil (1998), filme dirigido por Walter Salles, os personagens Josué, uma criança de nove anos, e Dora, uma professora aposentada que escreve cartas na estação Central do Brasil, realizam uma jornada em busca do pai do menino. A relação entre Dora e Josué é inicialmente difícil, contudo, em meio aos percalços da viagem, nasce entre eles um sentimento de ternura e solidariedade, que culmina em uma jornada interior em busca de seus respectivos pais. Em O filme da minha vida (2017), dirigido por Selton Mello, o personagem Tony retorna à casa da família após um período de estudos na capital e enfrenta a ausência do pai, que partiu dizendo voltar à sua terra natal, sem nunca mais ter dado notícias. O filme trabalha conflitos que orbitam a vida de Tony, como descobertas amorosas e o início da vida adulta, enquanto lida com as memórias do pai ausente. A partir de linhas narrativas distintas, o melodrama no caso de Central do Brasil, e a narrativa que evidencia a dualidade entre realidade/representação em O filme da minha vida, o diretor de fotografia Walter Carvalho faz escolhas técnicas e plásticas para a construção visual dos personagens e da narrativa. Utilizando a metodologia neoformalista proposta por David Bordwell no livro Figuras traçadas na luz, que analisa a narrativa e estética dos filmes a partir de seus padrões internos, a pesquisa centra-se na avaliação dos elementos formais de composição da imagem cinematográfica e também em seus aspectos de imagem técnica, que resultam em visualidades específicas. A análise toca em elementos que não são atributos diretos do diretor de fotografia. A fotografia é criada a partir do roteiro e das referências e concepções do diretor de fotografia e do diretor de cena. A parceria entre esses dois profissionais é de grande importância na realização de um filme, as funções do diretor de fotografia e do diretor de cena não são rigidamente fixadas, tampouco mutuamente excludentes, e em muitos casos é difícil separar a contribuição de cada um para o resultado final da obra. A imagem cinematográfica está ligada à representação, portanto elementos de roteiro, construção de personagens, cenografia, som e montagem também são referenciados, partindo do princípio de que existe uma influência mútua no trabalho desses dois profissionais criativos. Segundo Jacques Aumont, “os cineastas que pensam a imagem, pensam-na como uma representação afetada por um maior ou menor coeficiente formal (...) mas sempre como uma representação” (AUMONT, 2004, p. 53). Desse modo, o estudo da imagem fílmica, ainda que focado na imagem em si, não pode deixar de lado a obra que representa, pois imagem e narrativa encontram-se atreladas. A pesquisa também analisa fotogramas por meio de ferramentas do software Adobe Photoshop, com o intuito de avaliar de forma mais precisa as impressões resultantes de uma análise qualitativa de alguns dos elementos plásticos abordados, como por exemplo, cor e contraste. Desta maneira, avalia-se de que forma a escolha de lentes, a profundidade de campo, a composição, o desenho de luz, o contraste e a relação entre cor-pigmento e cor-luz convergem para a construção visual da narrativa e dos personagens de maneira distinta nos dois filmes. Em Central do Brasil, observam-se procedimentos clássicos de representação, a partir de uma narrativa contínua e crescente, que aproximam a obra do cinema de D. W. Griffith (1875-1948). Já em O filme da minha vida, que foge da linearidade do cinema clássico, as construções imagéticas flertam com o cinema de Sergei Eisenstein (1898-1948). Apesar do grande distanciamento entre os resultados visuais das duas obras analisadas, percebem-se elementos comuns, fruto da contribuição do diretor de fotografia Walter Carvalho. Desse modo, é possível afastar a ideia bastante limitada de que o diretor é o autor do filme, e o diretor de fotografia, apenas um técnico a seu serviço, e evidenciar a importância da utilização expressiva da fotografia no cinema. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. A estética do filme. Campinas, Papirus, 1995. |