ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Comunidades em negativo: caminhos da coralidade no cinema |
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Autor | Rodrigo Hubert Leme |
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Resumo Expandido | Uma tensão entre indivíduo e coletivo que atua através do abismo entre um e outro; a impossibilidade de se representar a comunidade em cena no contemporâneo; um princípio de criação coletivo, sem hierarquias, que dissolve a autoria e a agência da composição do que está em cena; uma amplificadora de aflições individuais através da multiplicidade de vozes: a coralidade, sem dúvidas, possui diversas formas de compreensão que derivam das suas diversas maneiras de ser. Enquanto termo, surge em trabalhos, relatos e críticas nas mais diversas formas de arte, mas de formas pontuais ao longo da história. Teóricos do teatro francês vão compreender sua presença na cena contemporânea: Jean-Pierre Sarrazac e Megevánd vão explorar o termo em seus estudos sobre a cena teatral moderna e contemporânea; a revista francesa Alternatives Theatráles dedicará uma de suas edições inteiramente ao tema, com a tradução do artigo de Christophe Triau sendo particular fonte de contato para a pesquisa contemporânea da coralidade no Brasil. Autores nacionais, como Fábio Cordeiro, também vão se debruçar sobre o assunto na cena teatral brasileira. O cinema não é estranho ao termo. A crítica italiana irá utilizar com frequência a palavra coralitá em seus textos a respeito do neorrealismo italiano. Pode-se observar as mesmas características que compõem a coralidade conforme descrita pelos autores acima no cinema de Peter Brook - não à toa também diretor de teatro - em obras como Marat/Sade, onde o próprio ato de atuar torna-se força de um processo coral quando, na narrativa, os pacientes de um hospício são colocados para encenar o assassinato de Jean-Paul Marat e, dessa forma, tornam-se aos olhos do público indivíduos unidos pela sua condição de pacientes. No Brasil, encenações que flertam com a coralidade revelam-se cada vez mais frequentes na tela grande: ficções vão se preocupar menos com protagonistas individuais e mais com a relação entre indivíduos e o grupo que compõem, como pode-se observar em Bacurau, de Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho, No Coração do Mundo, de Maurílio Martins e Gabriel Martins e Corpo Elétrico, de Marcelo Caetano. Muito antes: há grande potência coral em filmes como Terra em Transe, de Glauber Rocha ou Orfeu Negro, de Marcel Camus. A capacidade de uma imagem coral em friccionar individualidades através de um processo de tensionamento entre indivíduo e coletivo não encontra paralelos exatos no estudo do cinema nacional. Dessa forma, o trabalho tenta compreender algumas das formas em que a coralidade aparece na teoria de diferentes suportes artísticos e de meios de comunicação, do teatro à etnografia das vozes, da literatura ao cinema, para tentar evidenciar algumas de suas características em comum e apresentar algumas de suas possíveis interpretações, levantando aspectos que podem ser úteis como ferramentas para se explorar a coralidade no cinema. Tomando essa discussão como base, analisa-se a presença de imagens corais no cinema, a partir do uso do termo em italiano coralitá como presença frequente na discussão e na crítica a respeito do neorrealismo italiano, entendendo suas qualidades “fantasmagóricas” e suas particularidades no cinema. Em seguida, utilizo o termo para iniciar uma análise do cinema documental, não-ficcional e híbrido brasileiro a partir da coralidade que ele apresenta. Através dessa análise, serão evidenciadas algumas características específicas que o processo coral produz quando se encontra dentro dessa cinematografia, que dão abertura a reflexões e análises que podem por muitas vezes fugir de uma teoria tradicional do cinema. |
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Bibliografia | ALSOP, Elizabeth. “The Imaginary Crowd: Neorealism and the Uses of Coralità. The Velvet Light Trap”. n. 74, p. 27–41, 2014. |