ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Experimentalismo: diálogo entre o cinema marginal e as artes visuais |
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Autor | Mario Caillaux Oliveira |
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Resumo Expandido | [...] o experimental não é ‘arte experimental’ / os fios soltos do experimental são energias q brotam para um número aberto de possibilidades / no Brasil há fios soltos num campo de possibilidades: por que não explorá-los? (Oiticica, 2011, p158) “O experimental em nosso cinema é a música da mente livre, A iluminação de um novo continente. A música de um novo ser da experimental cinematografia terrestre ou não. Estética visionária. / Cinema: poema. Autor de cinema: poeta. Experimental: profeta. / Experimental: antena. Cinema: a estética da luz.”(Ferreira, 1986 p.16) A defesa do experimentalismo como alternativa ao desenvolvimento da cultura brasileira foi uma característica bastante marcante do período do final dos anos de 1960 e início da década de 1970. Desde o movimento do cinema novo, a ideia de liberdade, tanto na forma quanto na temática, vinha sendo explorada e ganha novos contornos com o aparecimento do chamado cinema marginal. Já no universo das artes plásticas, o próprio desdobramento das vertentes construtivas - concretismo e neoconcretismo – levou à exploração de outros sentidos, que não mais apenas o visual. Paralelamente, a conturbada situação política que o Brasil vivia, e que se intensifica com o golpe militar de 1964, também acaba influenciando a atuação dos cineastas e artistas visuais e consequentemente o próprio desenvolvimento de suas obras. Em 1968, Lygia Pape desenvolve um poema visual chamado de Língua Apunhalada. Está obra é um autorretrato fotográfico, em preto e branco, com um close do rosto da artista com a língua para fora, onde vemos um líquido preto escorrendo, no sentido horizontal. Através do título, sugere-se um ato de violência neste músculo. Dois anos depois, em 1970, em uma das cenas finais do filme “Família do Barulho” de Júlio Bressane, a atriz Helena Ignez aparece em um close frontal com um líquido escuro, escorrendo pelas extremidades dos seus lábios. Um vômito contido de sangue. Porém, a forma que essa mancha adquire no rosto da atriz, um borrão escuro do lábio inferior até o queixo, nos remete a uma língua ensanguentada. Como se a atriz estivesse com ela para fora da boca, como no caso da imagem de Pape. A questão temática se sobressai, principalmente, se levarmos em conta o momento político que o Brasil vivia. Análises e estudos de ambos os trabalhos percorreram este caminho, apontando como uma estratégia de resposta conturbada situação política. Ou ainda, uma introdução de novos temas - questões sociais e de gênero - que, até então, de uma certa maneira, eram ignoradas por nossa cultura. Mas para além destes aspectos, as semelhanças estratégicas destas imagens são bastante fortes. O que mostraremos é que, apesar de partirem de pesquisas estéticas em meios diferentes, existem pontos em comuns na base da construção destas imagens e, consequentemente, nos trabalhos destes artistas e dos grupos que eles participavam. Uma transformação da obra de arte, um alargamento de seus limites, tanto no cinema quanto das artes plástica. Uma mudança da própria linguagem e do objeto artístico, sejam eles fotografia, pintura, filme ou objeto. Ou seja, o próprio conceito de intermidialidade, que “implica todos os tipos de inter relação e interação entre mídias; uma metáfora frequentemente aplicada a esses processos fala de ‘cruzar fronteiras’ que separam as mídias.” (Cluver, 2011, p 9) Porém, nestes casos, toda esta reformulação aconteceu seguindo preceitos bem próximos, uma incorporação de um tipo de experimentalismo. Mas será que este conceito de experimental é o mesmo? Mário Pedrosa nesta época, utilizou a expressão “exercício experimental de liberdade” como uma alternativa à perda de autonomia que o objeto artístico vinha sofrendo no advento da arte pós moderna. Será que no caso do cinema marginal podemos pensar por esta via? |
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Bibliografia | ARANTES, Otília.Política das artes / Mário Pedrosa São Paulo: EdUSP,1995 |