ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Ressignificando fotografias de idas ao cinema: dois exemplos |
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Autor | João Luiz Vieira |
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Resumo Expandido | São quatro fotos, para começar: uma de meados dos anos 1940 tomada da Cinelândia, do meio da Praça Marechal Floriano em direção ao desaparecido Palácio Monroe, com os prédios dos cinemas à direita, destacando-se o Cine Odeon e, do outro lado, uma construção art-déco do que foi uma parada de bondes no início do Passeio Público. Uma outra foto, também próxima desse mesmo período e local, é um instantâneo que surpreende duas jovens mulheres possivelmente aguardando suas companhias para um programa no Cine Palácio, ali perto. Uma terceira foto, dos anos 1950, mostra um grupo de crianças--meninos basicamente, na porta de um cinema da periferia de Juiz de Fora, o Cine São Caetano, foto encontrada em pesquisas de um orientando meu, Ryan Brandão, a quem agradeço. Para além da importância dessas imagens enquanto fontes primárias que testemunham a presença concreta dos cinemas de rua, elas parecem interrogar uma micropolítica das imagens superpondo representação artística, registro do instantâneo, práticas de registro social que ganham texturas antropológicas ao documentar condições e formas de vida. E são reapropriadas aqui como suporte de agenciamentos de memórias públicas que nos ajudam a compor (e a especular) narrativas visuais sensoriais, retrabalhadas inclusive por processos de colorização e intervenção no P&B original. Compõem, como tantas outras imagens fotográficas, um locus privilegiado de memórias pluritemporais onde coabitam o tempo do registro do fato fotográfico e uma possível elaboração narrativa no presente, na construção analítica para apresentação no encontro anual da SOCINE 2021. Em nossas pesquisas no campo das histórias de cinemas, o encontro com fotografias e imagens do passado, assume aspectos relevantes na reconstituição de espaços públicos na sociedade contemporânea--em especial quando a presença dos cinemas de rua, seja na paisagem urbana, central, periférica ou mesmo rural, já não existe mais e a fotografia ganha status de único traço visual da materialidade desses cinemas, transformando-se em um ítem dos mais destacáveis e valorizados do conjunto de documentação correlata. São imagens que nos permitem refletir sobre o contexto do tempo do registro e mais além: testemunham um processo ativo e dinâmico no entrecruzamento de sensibilidades narrativas, sem excluir as do analista. Portanto, a intenção aqui será a de refletir sobre o potencial icônico de algumas imagens fotográficas selecionadas em sua ambivalência de sentimentos e ambiguidade de sentido. Como elas podem retornar hoje? Como podem ser ressignificadas? Como pdem ser lançadas em um circuito mais amplo de associações? |
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Bibliografia | Barthes, Roland. A câmara clara. Coimbra: Edições 70, 2006 |