ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Pioneiras e Rebeldes: as Mulheres Cineastas do Cinema Francês |
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Autor | Fernanda Aguiar Carneiro Martins |
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Resumo Expandido | Recentemente o documentário Be Natural - a História Não Contada da Primeira Cineasta do Mundo (2018) promove uma viagem rumo à trajetória de Alice Guy-Blaché (1873-1968), a primeira cineasta da história do cinema. Em meio a esse percurso, o documentário denuncia as inúmeras negligências por parte de críticos e historiadores, muito embora em face de uma pioneira - verdadeira profissional do cinema, responsável pelos primeiros filmes sonoros, inclusive por efeitos especiais. Supervisora de produção nos Estúdios Gaumont, fundou e coordenou o maior estúdio de cinema, o Solax, nos Estados Unidos, anterior a Hollywood. Transitando entre vários gêneros cinematográficos, sua obra permanece ousada e atual. No tocante à presença feminina, por vezes, infantil, vários títulos são dignos de nota, entre eles, A Fada do Repolho (1896), Desejos de Madame (1907), As Consequências do Feminismo, O Cair das Folhas (1912). Em sua filmografia, caberia melhor examinar, entre outros aspectos, seus longas-metragens. No contexto do cinema silencioso, Germaine Dulac (1882-1942) surge com toda a sua força em meio ao grupo de intelectuais e de artistas dos anos 1920. Com formação em fotografia, música e dança, Dulac exerceu as funções de jornalista, cineasta, ativista, feminista e teórica. Os longas-metragens A Sorridente Madame Beudet (1922) e A Concha e o Clérigo (1928) constituem dois expoentes de sua filmografia. Se o primeiro proporciona uma imersão no universo feminino, possuindo como tema a infelicidade conjugal, vivenciada pela protagonista Madame Beudet, valendo de recursos formais próprios da vanguarda impressionista; por sua vez, A Concha e o Clérigo consiste no primeiro filme surrealista da história do cinema. Objeto de um memorável escândalo, em sua avant-prémière no Studio des Ursulines em Paris, em 1928, vale conferir os propósitos da cineasta e os do seu roteirista Antonin Artaud, na origem de um conflito prejudicial tanto para a recepção do filme, quanto para a carreira da cineasta. Da Primeira Onda francesa dos anos 1920, prefigurando um cinema de autor, alcançamos a Nouvelle Vague com o cinema de Agnès Varda (1928-2019). Voz feminina única no seio desse movimento, Varda assim responde à indagação acerca da dificuldade de ser diretora: “Eu diria é difícil ser uma diretora de um período! Ė difícil ser livre; é difícil não ser esmagada pelo sistema. Temos muitas mulheres na indústria cinematográfica – é em termos de consciência que não encaramos de modo correto.” (In. ACKER, 1991: s/n). Ao todo, em sua filmografia, um frescor e uma fluidez sem iguais compõem uma produção de filmes de ficção e de documentários, abarcando curtas e longas-metragens. Caberia aqui revisitar o seu trabalho de cinécriture tal como a cineasta propõe em Sem Teto Nem Lei (1985), onde ficção e documentário se mesclam numa narrativa que possui como tema a liberdade, Varda revelando sua preferência por esse tipo de roteiro. No cinema francês contemporâneo, Céline Sciamma constitui uma das vozes mais proeminentes. Ativista e feminista, roteirista e diretora, Sciamma possui uma formação em literatura e em cinema, graduada pela FEMIS - Escola Nacional Superior de Profissionais da Imagem e do Som (Paris). A sua obra em permanente pesquisa, acerca do universo feminino, das questões ligadas à sexualidade e aos problemas de gênero, deslancha com a curiosa trilogia Lírios d’Água (2007), Tomboy (2011) e Garotas (2014). Com Retrato de uma Jovem em Chamas (2018), o tema da opressão às mulheres ressurge, mas é graças à atuação feminina à frente e por detrás das câmeras que o filme ganha notoriedade. Como apreender uma narrativa que traz em si a questão do olhar - Marianne deve pintar um retrato de Héloïse, numa narrativa de protagonistas exclusivamente femininas, Sciamma exercendo a função de roteirista e diretora, a direção de fotografia a cargo de Claire Mathon? Estaria em jogo o "reel female gaze" tal como observado em Dulac e Varda por Ally Acker (1991)? |
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Bibliografia | ACKER, A. Reel Women – Pioneers of the Cinema, 1896 to the present, New York: Continuum Company, 1991. |