ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Uma ilha rodeada de terras: o ostracismo paraguaio e "El pueblo" |
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Autor | Andrea C. Scansani |
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Resumo Expandido | Como seria a história do cinema latino-americano se pudéssemos escrevê-la a partir das obras que nunca chegaram a ser feitas? Se nos fosse possível analisá-las apoiadas nas ideias latentes das pessoas cujos sonhos foram esterilizados sem permissão? Ou, ainda, nos roteiros ou mesmo nos argumentos que, por terem sido gestados à sombra de regimes de exceção jamais puderam germinar? E se dentro desta utópica historiografia nos fosse possível resgatar aqueles poucos filmes que, mesmo tendo nascidos, foram logo sufocados, esquartejados e enterrados em latas comuns, sem identificação, para não serem mais abertas? Jean-Claude Bernardet, ao comentar o filme “Você também pode dar um presunto legal” (1970-2006) de Sergio Muniz, observa: “Você demonstra uma coragem e uma liberdade na feitura do filme que me fazem pensar que se teus filmes tivessem circulado mais e se você tivesse feito mais filmes, a história do documentário brasileiro poderia ser diferente”. Se a afirmação é trágica para pensarmos o que não foi possível ser feito ou apreciado na relativamente vasta filmografia brasileira, imaginemos essa mesma verdade em países cuja perda de uma única obra - ao entrar no esquecimento compulsório - pode significar o apagamento cinematográfico crítico de uma ou mais gerações. Decerto, essas subtrações locais reverberam nas mais bem intencionadas compilações e reflexões sobre a história do cinema latino-americano, perpetuando suas ausências e reiterando nossas fragmentações. Diante deste estado de coisas, nossa proposta tem como objetivo voltar-se para a pequena “ilha rodeada de terras” (nas palavras de seu poeta Roa Bastos), num resgate dos rastros deixados pelo cinema paraguaio dos anos 1960-1970, especialmente a produção do Grupo Cine Arte Experimental idealizado por Carlos Saguier e de seu filme, El pueblo (1969), restaurado em meados dos anos 2010. Trata-se de um média metragem que, segundo nossa aposta investigativa, foge às classificações de gênero e desfruta de um livre trânsito entre os campos do documentário, do experimental e da ficção; entre fatos e crenças; entre temporalidades materiais e atemporalidades espirituais. Essa autonomia estética, artística e política, ao mesmo tempo em que se afasta do cinema militante explícito - coordenado pelos filmes e manifestos do Nuevo Cine Latinoamericano -, parece conciliar os aspectos fundantes da mais industrial das artes com uma cosmogonia, quiçá guarani, para dar visibilidade aos ecos de uma história de resistência e árdua permanência. |
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Bibliografia | BAREIRO SAGUIER, Rubén. “Paraguay”, in HENNEBELLE, G.; DRAGON, A. G. Les cinémas de l'Amérique Latine. Paris: Lherminier, 1981. |