ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Do ponto de vista ao ponto de ver: camerar o cinema para sair de si |
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Autor | Isaac Pipano Alcantarilla |
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Resumo Expandido | Na edição Le point de vue do material didático para docentes que integra a coleção L’Eden cinema, Alain Bergala escreve que o ponto de vista é essencial à toda pedagogia do cinema. É ele quem permite aproximar diferentes níveis da forma cinematográfica – os planos, as sequências e o filme, integralmente –, além de ser a maneira como o espectador se identifica aos personagens e à ficção. E, sobretudo, é uma questão de moral: o tratamento do ponto de vista num filme é um critério de avaliação da ética do cineasta em relação ao espectador. Finalmente, o ponto de vista é, sem dúvida, diz Bergala, a questão que atravessa a totalidade das fases de criação de um filme. A cada instante do processo de criação, o cineasta faz escolhas relativas ao ponto de vista, decisivas para o que o filme será e qual o lugar desejado para o espectador: “a reflexão sobre o ponto de vista articula, sem artifício ou esforço, a forma e o conteúdo do filme, sua estilística e seu discurso, a análise do detalhe e a análise do todo”. Mais adiante, no mesmo texto, Bergala afirma que, embora o ponto de vista adquira essa importância nos estudos cinematográficos, os trabalhos seguem emprestando seus conceitos das teorias literárias sem considerar a especificidade do contexto cinematográfico e igualmente sem distinguir o ponto de vista tratando-se ora no campo da ficção (onde é uma escolha definitiva e controlada pelo realizador); ora do documentário, no qual o ponto de vista estaria sob a contingência do real, sendo por ele atravessado. Para Bergala, as teorias falham à medida que definem o ponto de vista em função quase que exclusivamente do eixo da câmera, sem considerar os outros inúmeros fatores que lhe compõem. Para atacar o problema, Bergala oferece em seu material uma curadoria de filmes e sequências que tratam de pensar a questão do ponto de vista a partir dos extratos – entretanto, sem tratar os fragmentos como ilustrações do que a teoria almeja demonstrar. A diferença é de tamanho, Bergala escreve: entre o desejo de provar as ideias já elaboradas convocando os extratos adequados ao seu uso; ou aquele de procurar, de maneira aberta e viva, isso o que os fragmentos do filme nos dão a ver como ideias e conceitos sobre essa delicada e crucial questão do ponto de vista no cinema. Estimulados pelo seu método de partir dos filmes para, com eles, forjar novos conceitos, gostaríamos de tomar o filme Conselheiro Crispiniano (2016), de Yudji Oliveira, curta-metragem disparador de toda uma nova reflexão que complexifica o modo como as teorias têm argumentado sobre o ponto de vista, dentre elas, a teoria formulada pelo próprio Bergala. Para tanto, gostaríamos de sugerir um caminho extravagante, assumindo que uma ética da imagem conectada ao ponto de vista como princípio ontológico, estará fadada a sucumbir sob o jugo da representação ao atrelar-se ao regime escópico. De modo que, se o que determina a ética da imagem é o ponto de vista, somente desfundando-o como perspectiva privilegiada de onde se pode ver e saber – arruinando o lócus identificador do sujeito – é que estaremos efetivamente nos abrindo a uma pedagogia das imagens não subordinada pelos imperativos da representação: à procura de uma ética sem fundamento. Como coloca Sandra Alvarez de Toledo (seguindo as pistas de Deligny...), aquele que tem um ponto de vista ocupa uma posição – posição esta que só pode ser localizada no mundo da linguagem. É por isso, então, que ela sugere uma substituição, a partir da mesma preferência pelo uso dos infinitivos adotada por Deligny. Em vez da ditadura do ponto de vista, o agenciamento de um ponto de ver. |
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Bibliografia | DE TOLEDO, Sandra Alvarez. Point de Vue / Point de Voir. Cadernos Deligny, v. 1, n. 1, p. 88–98, 2018. |