ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Aportes para novas miradas: O cinema de César González |
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Autor | Roberta Filgueiras Mathias |
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Resumo Expandido | A proposta dessa comunicação é apresentar e analisar algumas características da obra de César González, cineasta que venho estudando em meu processo de doutoramento. Sua obra, em primeiro momento, chamou minha atenção por seu caráter duro e ao mesmo tempo denso. Morador de Villa Carlos Gardel, localizada no distrito de Moron, conurbano bonaerense , passou a cursar a carreira de filosofia ainda na prisão e viu o cinema crescer como possibilidade de proposição estética de um território. Aqui, pretendo analisar o que o próprio nomeia como trilogia villera que conta com Diagnóstico Esperanza (2013), Qué puede un cuerpo (2014) e Athenas (2019). Embora a temática territorial perpasse toda sua obra, que faz também questão de dizer ser um “cinema villero”, trago esses três filmes como centro de minha análise acompanhando o recorte feito pelo próprio diretor para evidenciar perceptíveis mudanças ao longo do tempo tanto em linguagem quanto em técnica, mas ressaltar a permanência de questões que enfocam a disputa pelo território físico, discursivo e imagético. A Villa Carlos Gardel teve urbanização finalizada em 2010 e passou a ser considerada barrio. Essa denominação, acompanhada de uma demarcação, não é ingenuamente ignorada pelo cineasta. A proposta por um cinema villero pode ser considerada como disputa não somente metodológica, pois também o é, mas principalmente uma visão das arenas culturais, ou seja, dos territórios urbanos como em disputa cultural constante predominantes nas cidades latino-americanas (GORELIK,2016, página 2). Ao reestruturar o conceito cunhado por Richard Morse, para pensar as cidades latino-americanas contemporâneas, o sociólogo argentino pensa nos movimentos específicos que são (re)inaugurados nas diversas reformulações pelas quais passamos e nos poderes que as orbitam. Assim, trazer a obra de González para ser discutida nesse seminário temático é apresentar o diálogo entre cinema e território a partir de uma visão periférica atravessados pelas perspectivas contra hegemônicas que podemos encontrar nos autores citados na bibliografia dos próprios pesquisadores organizadores, pois o corpo de González e de seus protagonistas/companheiros de obra são latino-americano, periféricos e marrones, tendo sua ascendência indígena também como marca colonial. Para deixar mais evidentes minhas referências compartilhadas, a ideia de desobediência epistêmica (PALERMO) e reavivação (WALSH) são centrais nesse cinema insurgente que utiliza as teorias coloniais apreendidas na academia formal, mas as transmuta em componente villero. O entendimento de fazer parte de uma engrenagem sistêmica secular, faz o cinema de González seguir para espaços conhecidos em seu cotidiano, mas que agora serão explorados de outra forma, tendência que podemos notar em seu cinema mais recente. |
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Bibliografia | GORELIK, Andrian y PEIXOTO, Fernanda Arêas Ciudades sudamericanas como arenas culturales: Artes y Medios, Barrios de elite y Villas Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2016 |