ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Heil Darling: uma Hollywood que esqueceu de acontecer |
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Autor | Pablo Gonçalo |
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Resumo Expandido | Em 1938 Billy Wilder escreve com Jacques Thery o roteiro Heil Darling. Este argumento, com cinquenta e duas páginas, conta as peripécias de Josh Crocker, um jornalista norte-americano, da ABC, que está em Viena justamente no período que Hitler invadirá e anexará o país vizinho. Ciente de um eminente perigo, Josh e seus colegas precisam sair do país. Estão, no entanto, sem dinheiro. Nesse ínterim, uma viúva austríaca precisa de um passaporte norte-americano para escapar da Áustria. No regime nazista, numa nova rega, casamentos só são possíveis entre arianos “puros”. Torna-se, então, necessário que Crocker seja “aprovado” no minucioso teste eugênico da Dr. Fraulein Whilelmine Müller. Durante o exame, ele e a nazista começam a flertar. Além de inédito, esse roteiro não filmado é completamente desconhecido da bibliografia sobre Billy Wilder e da Hollywood clássica. Embora não dito de forma direta, o tema do antissemitismo permeia este e outros roteiros não filmados escritos em períodos próximos. Em 1933, logo após a ascensão de Hitler como chanceler da Alemanha, Herman Mankiewicz escreve The mad dogs of Europe. O percurso desse roteiro gerou uma enorme polêmica nos Estados Unidos e até na Alemanha. Mankiewicz conta a estória de uma família judia austríaca. Um professor judeu é o protagonista, que acaba perseguido, enviado e morto num campo de concentração. A história escrita por Mankiewicz não encontrou adesão dos produtores judeus de Hollywood; foi barrada por Joseph I. Breen, então diretor do código Hays, censura da época; e sequer foi abraçada pela ADL, Anti-Defemation League, instituição com missão de impedir a disseminação antissemita nos Estados Unidos. Produtores, censores e a sociedade civil da época compartilhavam diferentes tipos de receios. Filmes de Hollywood que abordassem a temática antissemita raramente alcançavam as telas nos anos trinta e início do quarenta. Em 1944, Ben Hecht escreve The Divine Sarah, um roteiro biográfico da famosa atriz Sarah Bernhardt. A obra seria produzida por David O. Selznick, e abordava o chamado caso Dreyfus, no qual Sarah se envolve abertamente contra o antissemitismo francês do século XIX. Assim como ocorreu com o roteiro de Mankiewicz, o escritório do código Hays vetou essa narrativa e sugeriu alterações nos traços efusivos e iconoclastas de Sarah. Embora fosse um militante sionista, e um dos mais influentes roteiristas de Hollywood, Ben Hecht não consegue realizar sequer um filme com personagens que triscassem essa causa. Sua militância migou para artigos de jornais e peças de teatro. A partir do contraste e da comparação desses três roteiros não filmados, esta apresentação visa trazer à tona uma relevante inquietação estética que não alcançou a tela no fervor da hora. Proponho desvelar territórios recalcados da criação e expressividade fílmica de alguns dos principais e mais influentes roteiristas da Hollywood clássica. Por esse viés, a comparação de roteiros não filmados revela-se uma metodologia capaz de revelar aspectos temáticos, estéticos e procedimentais que escapam à análise fílmica. Destaco uma arqueologia especulativa, metodologia que aposta em descobrir fábulas e narrativas passadas que esqueceram de acontecer na complexidade do seu momento histórico. A engajada biografia de Sarah Bernhardt, a denúncia dos campos de concentração do roteiro de Mankiewicz assim como a ironia diante da eugenia de Heil Darling oferecem uma consistente tessitura estética e histórica, cuja força se dissipou em ondas submersas, que não se cristalizaram integralmente no tempo presente das telas Hollywoodianas. De todos esses três roteiros, somente Heil Darling ecoou nos filmes de Billy Wilder. Em 1948, Wilder filma A Mundana, com Marlene Dietrich interpretando a cantora de cabaré Erika von Schuletow. Essa ponte entre uma Alemanha do período de Weimar, mais livre e debochada, agora é contraposta ao puritanismo americano, que se espalha nas ruínas pós-guerra do território germânico. |
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Bibliografia | Bise, Sheri Chinen. Film censorship: regulating American's scren. New York: Columbia Univversity Press, 2018. |