ISBN: 978-65-86495-02-7
Título | Sobre a Estética da Aproximação |
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Autor | Isabel Alencar de Castro |
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Resumo Expandido | O olhar sobre esses dois filmes, Casa Grande e Que horas ela volta?, é uma reflexão estética, através da análise de cenas. Assim, parto da impressão que tive ao vê-las pela primeira vez, ampliando suas camadas de leitura. Além de uma escolha como localização, estes lugares têm reverberados não somente sentidos sociais, como também estéticos. É uma associação entre imagens em movimento e pintura, entre o campo da Comunicação e das Artes Visuais. Antes de tudo vale esclarecer que não é uma tradução literal de formas, em que tenha que aparecer elementos da mesma cor numa e outra imagens comparadas. É, sim, uma associação de imagens em movimento e uma pintura estática pela “simetria de procedimentos visuais”, que o diretor e o pintor lançam mão. Para tanto, inicio essa breve argumentação com uma afirmação de Alain Badiou (2002, p. 104) que diz: “[O cinema] é o mais-um das seis outras artes”, referindo-se à impureza de linguagens atribuída ao audiovisual. Ele defendia que não era a soma resultante de música + texto + imagem, por exemplo, e sim, uma arte à parte que sintetizava as relações entre as muitas outras. Unido ao filósofo francês, coloco Hans U. Gumbrecht (2014, p. 32) e o conceito de Stimmung, traduzido para o português como ambiência (porém não muito aceito por todos, por isso mantenho o termo original). O Stimmung não é apreendido pela lógica, somente pela realidade afetiva e que a sua presença é sentida por “ambientes com substância física, que nos tocam ‘como se de dentro’”. O pensador segue esclarecendo que o Stimmung é uma epifania, como uma presença, como uma atmosfera, porém, ao se perceber a presença, também temos a ausência, desta que não pode ser apreendida (GUMBRECHT, 2014, pp. 15-16). Ao ver as cenas eleitas dos filmes em questão in continuum, pude sintetizá-las em uma imagem única com uma ligação profunda com a sequência visualizada, e ao mesmo tempo, vivenciar o movimento da cena pintada na tela como um continuum. “No entrelaçamento dessas produções, é possível inferir uma ação construtiva comum, que eu chamo de procedimento visual tanto na cena como na imagem associada e assim, nesse movimento pendular de uma a outra e vice-e-versa, estabelece-se a “Estética da Aproximação (CASTRO, 220, p. 106). As duas cenas se desenrolam na piscina das casas e à noite. Do filme “Casa Grande” (2015), de Fellipe Barbosa, escolhi a primeira cena em que se desenrolam os créditos. O pai, Hugo, está relaxando na Jacuzzi ao lado de piscina, bebendo uísque e ouvindo música em alto volume e a associo à tela do pintor francês Paul Delaroche, intitulada “Napoleão abdicando em Fontainebleau”, do ano de 1845. Do outro filme, “Que horas ela volta?” (2015), de Anna Muylaert, elegi a de Val, a doméstica da casa, que se dirige à escada da piscina e desce em direção à água rasa. E a tela correspondente é do artista britânico David Hockney, com o título de “Retrato de um artista (piscina com duas figuras)”, de 1972. |
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Bibliografia | BADIOU, A. Pequeno manual de inestética. São Paulo: Estação Liberdade, 2002. |